Fonte: Agência Senado
Por Luiz Henrique Gomes
O veto ao financiamento empresarial de campanha marca o início de uma mudança estrutural no país que atinge dois pilares: os interesses políticos e a corrupção. É muito cedo para afirmar que essas mudanças serão concretizadas, mas o ato da presidente Dilma tem tudo para entrar na história do país como um marco do amadurecimento democrático.
Com o veto, altera-se toda a lógica nas campanhas eleitorais, a fim de retirar a classe política das mãos dos empresários.
Antes, esses eram os principais financiadores de campanha e, não sejamos ingênuos, os interesses estavam por trás dos milhões de reais despejados - ou melhor, investidos, porque ninguém daria essa quantidade de dinheiro sem esperar um retorno. Os políticos eleitos com essa grana, da base aliada do atual governo à oposição, acabam por cumprir tais interesses; senão, podem dar adeus ao próximo mandato.
E é assim que surge a bancada ruralista, compostas por empresários do campo, donos do agronegócio; os defensores das cidades verticais, que dão o espaço da cidade para construções desenfreadas de mais e mais prédios; e por ai vai... até chegarmos ao pior congresso desde a redemocratização de 88.
Agora, esperamos que a nova lógica que irá se estabelecer devolva a política às mãos do povo brasileiro. Quem sabe, se a campanha petista vencedora no ano passado não tivesse sido financiada por empresários, os direitos sociais não estariam num lugar mais seguro, longe dos cortes orçamentários?
No que diz à corrupção, o veto é uma medida de combate muito mais eficaz do que o reality show feito da operação Lava-Jato. Isso porque ataca a raiz dos principais esquemas de corrupção do país: As relações entre o dinheiro privado e o público.
Tomando como exemplo a própria Lava-Jato, o esquema funcionava (ou funciona) com propina de grandes empreiteras à políticos influentes e executivos da Petrobras para determinar contratos e licitações que desviavam uma quantidade gigantesca de dinheiro para o bolso dos envolvidos. Entendeu a relação?
Sabemos que a corrupção não vai acabar com a medida, porque sempre dão o 'jeitinho'. Mas, com certeza, é um passo importante para a moralização política do nosso país, por dificultar os esquemas e criminalizar as relações entre os empresários e a classe política.
Quem fica triste com isso são os jornais vendidos à custa do espetáculo feito, com as grandes novelas de delações premiadas e declarações esquematizadas de "fontes anônimas". Já nós, povo brasileiro, ficamos esperançosos dos rumos que o país pode tomar.
Por fim, pode-se destacar que o veto foi um ato valente da presidente Dilma. Nessa tempestade política que o país vive, com oposição feroz, base parlamentar esfacelada e afastamento do público eleitoral, além de uma sucessão de erros e uma política econômica duramente criticada, Dilma dessa vez não se curvou aos interesses empresariais.
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