Dia 13 de Maio, dia nacional da abolição da escravatura, que promove discussões e temáticas para além das suas 24 horas. Em 1888, era assinada a Lei Áurea pela princesa Isabel e assim escravos eram libertos dos seus senhores, mas não foram libertos - ainda - de todas as mazelas, estereótipos, preconceitos e discriminações nas mais diversas camadas da sociedade brasileira.
O Caderno de Pauta reforça a luta pela conscientização, e hoje traz abre espaço às literaturas e concretudes dos nossos membros, abordagem mais livre pela liberdade: pela erradicação de quaisquer preconceitos raciais.
por Marcelha Pereira da Silva e Tálison
Felipe Ferreira de Sena
Meu nome era Jorge
negro, pobre e pé rapado
escravizado, humilhado, vendido
esquecido, alforriado... livre?
Livre de que?
não tinha emprego
não podia estudar
andava sozinho, queriam me matar
Minha vida inteira fui resto da
sociedade
se ia ao shopping? não podia comprar
ao senado: não podia entrar
pra escola... bem, ali não era meu
lugar
Minhas músicas não queriam escutar
minhas novelas quiseram acabar
minha arte criticar
e meu salário usurpar
Você vem me falar de liberdade
mas não a vi em nenhum lugar
igualdade?
aqui não deixaram passar
E meu povo vai vivendo assim
sofrendo, morrendo
lu..tan..d..o...
PS:
Jorge foi morto aos 19 anos sendo vítima de sua cor.
Por Luana Aladim
Sou
feito de carvão, de petróleo e fumaça
Sou
parte da raça que compõe o Brasil
Sou
força, sou luta, eu sou resistência
Sou
mais que a parte, eu sou a essência
Sou
grito, sou fogo, sou fome e de cor
Sou
rico, sou pobre, valente com amor
Parte
do que fui, do que sou, eu não era
Mas
sempre fui forte, lutante de guerra
Também
sou carinho, afago e arte
Também
faço parte da cor do Brasil
Sou bem
desse jeito, mas mais que um preto
Sou tão
integrante quando a cor anil.
Por Luana Aladim e Tálison Felipe
Falta
muita coisa. Mas, antes de tudo, faltam aceitação e respeito. Aceitar o Brasil
como miscigenação, como um país unido por diferentes culturas, de diferentes
povos, de gente diferente também. Um país de história construída com muita
luta, muito suor e sangue. Um país que foi, por muitos anos, explorado por quem
só pensava no lucro das nossas terras, por quem duramente escravizou negros
africanos e pouco se importou com a vida dos que já viviam aqui.
É
bem verdade que a história de luta do negro por liberdade, espaço,
representação e igualdade é antiga. A escravidão deixou marcas e apesar de
algumas conquistas, ainda assim, uma grande maioria enfrenta dificuldades para
conseguir emprego e ingressar na universidade, por exemplo.
“O que falta é a noção de
igualdade entre as etnias, noção de que somos iguais enquanto seres humanos,
diferentes apenas em alguns aspectos físicos. Falta a noção de identidade com o
conceito de ‘ser humano’”. Aryádne Melo é estudante de Direito da Universidade
Católica de Pernambuco e participa de movimentos contra o racismo.
O preconceito é um fenômeno
histórico que acompanha o ser humano desde sua formação. No conceito mais cru
do termo, preconceito é a antecipação ideológica de algo que ainda nem se
conhece. Desse modo, o preconceito racial é injustificável, afinal, a raça
humana é bastante conhecida. Ainda sobre esse assunto, a estudante de medicina
da Faculdade Pernambucana de Saúde, Alícia Banja comenta: “ao contrário do que
pensavam os imperialistas adeptos ao darwinismo social no século XIX, o
fenótipo não altera em nada a humanidade do sujeito. E por humanidade digo
capacidade intelectual, simbólica etc. O que faz do ser humano ser o Homo sapiens é a capacidade de
interpretar e formar símbolos.”
“Já dizia Darwin: a lei do
mais adaptado” continua Alícia, e conclui: “pra cada região do mundo o que
prevalece é o fenótipo* mais adaptado: na África subsaariana prevaleceram os
negros e nos países nórdicos prevaleceram os brancos – isso antes mesmo desses
locais terem essas denominações territoriais”.
As fronteiras criadas em
territórios físicos também permeiam o campo ideológico: a necessidade de
rotular as pessoas reduz o complexo ao simples, o vivo ao objeto. Assim, antes
de conhecer a essência de um sujeito, julga-se sua carcaça biológica. “É como
se um capoeirista branco tivesse que ser aclamado por ele ser ‘capoeirista
branco e que sabe jogar bem’, ou como se um professor doutor fosse lembrado não
pela sua competência, mas por ser um ‘professor doutor negro’”, comenta João
Vitor Felipe, estudante de Jornalismo da UFRN.
Definições e demarcações
sempre existirão. Entretanto, barreiras não precisam ser criadas para limitar
onde é início ou fim. Uma sociedade é composta por comunidades que, por sua
vez, possuem nichos formados por indivíduos. Esse formato só é possível devido
à capacidade de interação entre as esferas: o todo só pode existir devido à
harmonia das partes.
13
de maio é um dia para reafirmarmos a luta por igualdade e refletir acerca de
qual liberdade os negros têm hoje. De lutar pela inclusão ainda mais
representada de negros na política, nas universidades, no mercado de trabalho,
na cultura, no shopping, nas festas e aonde eles quiserem. É pela igualdade já
que a liberdade não basta.
*no contexto pode ser
substituído por etnia
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