Candidatos a deputado federal discutem ideias e propostas de campanha com estudantes da UFRN
Por Kamila Tuenia e Yuri Gomes
O auditĆ³rio da Escola de CiĆŖncia e Tecnologia da UFRN, palco de aulas de cĆ”lculo e Ć”lgebra linear, abrigou na Ćŗltima segunda-feira (03) um debate entre quatro candidatos a deputado federal. Organizado por professores e estudantes da disciplina de PrĆ”tica de Leitura e Escrita dos cursos de CiĆŖncia e Tecnologia, Letras e Filosofia, o evento fez parte de uma atividade extraclasse: cada estudante tinha a tarefa de elaborar uma pergunta que, caso sorteada, seria feita a um dos candidatos.
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AuditĆ³rio lotado acompanha debate entre candidatos a deputado federal na UFRN. Foto: Yuri Gomes |
Com duas sessƵes, uma Ć tarde e outra Ć noite, o debate contou com a participaĆ§Ć£o dos candidatos Alayde Passaia (NOVO), Caramuru Paiva (PT), Renato Fernandes (PSC) e Silvino BaĆŗ (PSTU); a vereadora de Natal e tambĆ©m candidata NatĆ”lia Bonavides (PT) foi convidada, mas nĆ£o compareceu ao evento. Foi dividido em cinco blocos, com apresentaƧƵes de cada candidato, perguntas dos estudantes e da plateia, alĆ©m de questionamentos entre os candidatos, e suas consideraƧƵes finais.
Por nĆ£o haver temas prĆ©-definidos, como acontece em alguns debates presidenciais, os temas foram os mais variados possĆveis: de reforma agrĆ”ria a empreendedorismo, de privatizaƧƵes ao modelo adequado do sistema pĆŗblico de saĆŗde, de adoĆ§Ć£o a porte de armas.
O combate Ć corrupĆ§Ć£o e aos privilĆ©gios polĆticos, bem como a diminuiĆ§Ć£o do Estado ocuparam boa parte das falas dos candidatos Alayde Passaia e Renato Fernandes. Reforma agrĆ”ria, defesa dos aparatos de proteĆ§Ć£o social e crĆticas Ć classe empresarial foram comentados por Caramuru Paiva e Silvino BaĆŗ.
“Um exercĆcio da democracia”
Os debates na Escola de CiĆŖncia e Tecnologia sĆ£o prĆ”tica comum na disciplina de PrĆ”tica de Leitura e Escrita, como disse GlĆcia Azevedo Tinoco, linguista, professora da ECT e uma das organizadoras do debate. Para ela, o foco da sua disciplina Ć© a prĆ”tica da argumentaĆ§Ć£o e o debate Ć© um espaƧo para esse exercĆcio, alĆ©m disso, considera a linguagem como principal pilar da educaĆ§Ć£o polĆtica. “A polĆtica se exerce a partir da linguagem e, na posiĆ§Ć£o de linguista, eu defendo que o ensino da argumentaĆ§Ć£o tem de ser feito em funĆ§Ć£o de um trabalho maior, de educaĆ§Ć£o e conscientizaĆ§Ć£o polĆtica", disse.
Segundo GlĆcia, a escolha de realizar um debate entre candidatos a deputado federal se deu em razĆ£o da maior representatividade de ideias e pensamentos que eles poderiam dar ao debate. Essa decisĆ£o, bem como outras, se deu atravĆ©s de votaĆ§Ć£o entre os estudantes das turmas da professora. O conjunto de organizaĆ§Ć£o e execuĆ§Ć£o do debate, de acordo com ela, Ć© um “exercĆcio da democracia”.
A candidata do NOVO
Alayde Passaia, 41, publicitĆ”ria e candidata pela primeira vez a um cargo eletivo. Segue o modelo de seu partido, o NOVO, afirmando defender novas prĆ”ticas na polĆtica, a comeƧar pelo uso da cota parlamentar para custeio de gabinete: todo candidato a cargos legislativos da sigla estĆ” comprometido a, caso seja eleito, cortar 50% dos custos com assessores, carros e outros serviƧos comuns aos parlamentares.
O NOVO permite que cada candidato tenha seu prĆ³prio posicionamento acerca de pautas identitĆ”rias, como regulamentaĆ§Ć£o do aborto e descriminalizaĆ§Ć£o das drogas, por exemplo. JoĆ£o AmoĆŖdo, presidenciĆ”vel do partido, jĆ” se declarou “um liberal na economia e um conservador nos costumes”.
Alayde segue a linha do seu lĆder partidĆ”rio e opina que o aborto deve se restringir aos casos atualmente previstos na constituiĆ§Ć£o. “Eu sou a favor da vida. Agora, precisamos pensar isso como um problema de saĆŗde pĆŗblica e na minha opiniĆ£o nunca foi feito um levantamento, um estudo sĆ©rio, sobre as mulheres que estĆ£o morrendo fazendo aborto. Depois disso, podemos colocar em discussĆ£o”, disse.
Uma polĆtica transformadora
Caramuru Paiva, 43, Ć© engenheiro agrĆ“nomo e tem histĆ³rico nos movimentos sociais voltados Ć agricultura familiar e ao acesso Ć terra. O postulante do PT Ć CĆ¢mara dos Deputados foi delegado federal do MinistĆ©rio do Desenvolvimento AgrĆ”rio, durante a segunda gestĆ£o de Dilma Rousseff, e assessor do mandato da senadora FĆ”tima Bezerra. Dada a sua experiĆŖncia, diz que vai focar sua atuaĆ§Ć£o parlamentar na melhoria dos programas de alimentaĆ§Ć£o, de amparo Ć agricultura familiar e no combate ao uso de agrotĆ³xicos.
Defensor de maiores investimentos na educaĆ§Ć£o, promete lutar pela abertura de mais mais vagas nas universidades, especialmente no interior. “Acredito que Ć© possĆvel construir uma naĆ§Ć£o que garanta minimamente as trĆŖs refeiƧƵes por dia das famĆlias. Vamos fomentar o desenvolvimento pensando nas pessoas, na educaĆ§Ć£o, na juventude e na diversidade”, afirmou.
O candidato acredita que a polĆtica Ć© um instrumento de transformaĆ§Ć£o da vida das pessoas e, para ele, foram os governos de Lula e Dilma que fizeram com que o paĆs experimentasse a maior distribuiĆ§Ć£o de renda e a diminuiĆ§Ć£o das desigualdades. “Ć para continuar esse trabalho que me coloco a serviƧo do Rio Grande do Norte”, declarou.
“O resgate dos valores morais”
O empresĆ”rio salineiro Renato Fernandes, 56, Ć© um dos candidatos Ć cĆ¢mara federal pelo PSC. Suas pautas principais giram em torno da desburocratizaĆ§Ć£o do acesso ao crĆ©dito por pequenos produtores, da exploraĆ§Ć£o do potencial mineral do Rio Grande do Norte e da mudanƧa na lĆ³gica de financiamento dos presĆdios e cadeias pĆŗblicas - ele defende que os presos trabalhem para pagar seus custos na prisĆ£o.
Perguntado sobre suas posiƧƵes acerca da descriminalizaĆ§Ć£o do aborto antes de 12 semanas de gestaĆ§Ć£o, Renato foi assertivo: “sou contra”. Diz seguir a orientaĆ§Ć£o ideolĆ³gica do seu partido e concorda que a prĆ”tica apenas deva ser legalizada nos casos previstos na lei.
Em nome da revoluĆ§Ć£o
Silvino BaĆŗ, 52, lĆder comunitĆ”rio no bairro do Bom Pastor, pleiteia uma das vagas do RN na CĆ¢mara dos Deputados pelo PSTU. No ano de 2016, foi candidato a vereador pelo mesmo partido. Apesar de estar concorrendo em um processo eleitoral, ele nĆ£o deposita nenhuma confianƧa na polĆtica atual. E, assim como as candidaturas majoritĆ”rias do seu partido, Silvino clama por uma rebeliĆ£o: “As eleiƧƵes nĆ£o mudam a vida do povo. As classes marginalizadas devem se organizar em uma rebeliĆ£o”.
“A classe baixa, o trabalhador, deve se rebelar contra tudo que vem acontecendo porque hĆ” mais de 400 anos que a polĆtica do capital sempre vem trazendo benefĆcios para os ricos”. Defende a estatizaĆ§Ć£o das 100 maiores empresas brasileiras, para que ocorra uma inversĆ£o da lĆ³gica capitalista e que a riqueza do paĆs sirva aos trabalhadores. Assim, afirma que o Ćŗnico caminho para isso Ć© a rebeliĆ£o: “Faltam polĆticas pĆŗblicas nas nossas comunidades e nĆ³s, que estamos na periferia, sabemos disso. NĆ³s precisamos nos rebelar contra tudo isso e fazermos uma revoluĆ§Ć£o preta, jovem e socialista”.
Perguntado sobre a contradiĆ§Ć£o de negar a eficĆ”cia da polĆtica e concorrer a um cargo eletivo, Silvino respondeu que a eleiĆ§Ć£o Ć© apenas um meio para um fim maior: "A intenĆ§Ć£o mĆ”xima do PSTU Ć© chegar no poder e organizar a massa para fazer a rebeliĆ£o e depois fazer uma revoluĆ§Ć£o”.
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