Por João Pedro Patrício, Letícia Dantas, Lucas Cortez e Vitória Laís
O dia 23 de maio
aparentemente não tem nada de mais. Não há comemoração, não há marcação no
calendário, e as pessoas inserem a data em anotações escolares e profissionais
como se fosse um dia como qualquer outro – e na verdade é. Mas o que elas
fariam se descobrissem que esse dia qualquer é reservado para a comemoração e
proteção da existência de uma espécie animal? Pois bem, o dia 23 de maio é o
dia da tartaruga.
Acontece que, com o
objetivo de chamar a atenção para a preservação da espécie, a American Tortoise Rescue, uma
organização norte-americana dedicada à proteção das tartarugas, criou, em 2000,
o Dia Mundial da Tartaruga. Realmente é necessário haver uma data mundial para
um animal tão internacional. São mais de 200 espécies diferentes com uma
variedade de tamanhos e habitats. Já teve tartaruga até no espaço – duas
tartarugas foram os seres terrestres que chegaram mais perto da lua, durante um
projeto espacial russo em 1968.
A tartaruga lida com a
dificuldade natural de sobrevivência: a cada mil filhotes que nascem, cerca de
um ou dois conseguem atingir a fase adulta. Mas essa não é a única dificuldade
– não natural. O que faz com que as espécies estejam ameaçadas a cada movimento
da nadadeira e a cada respirada é a poluição dos rios e mares. Para isso,
existe muita conscientização, mas a demanda é gigante. Na região metropolitana
de Natal, por exemplo, existe apenas um centro de reabilitação para tartarugas
e outros animais marinhos – ou não –, e esse lugar é de iniciativa privada.
O Aquário Natal,
localizado no bairro da Redinha, abriga e recupera cerca de 300 animais de 72
espécies, entre elas as tartarugas marinhas, os cágados, de água doce, e os
jabutis, terrestres – os três da ordem testudines, que engloba as mais de 200
espécies. O Aquário conta com 40 funcionários, dentre eles Anderson Fernandes.
Técnico em aquicultura, trabalha há um ano no aquário guiando os visitantes e
passando informações sobre as espécies que lá são mostradas. “O lixo é a
principal causa de internação das tartarugas, tendo em vista que elas confundem
com alimento”, disse ele ao mostrar uma tartaruga solitária no canto do
aquário. A razão para aquela tartaruga ser tão quieta é que uma de suas
nadadeiras foi amputada por causa de uma rede de pesca. Além dela, quase
reabilitada, existem outras, tanto doentes quanto recuperadas. O aquário
trabalha com um centro de reabilitação para animais doentes, acidentados ou
maltratados.
A proprietária do
Aquário, Adelene Brandão, 70 anos, diz que evita expor as tartarugas doentes
por pena das crianças que visitam o lugar terem que entender o nível da
crueldade humana. “100% das tartarugas que chegam ao aquário após resgate na
praia, chegam com pneumonia, devido à grande quantidade de lixo que engolem”,
afirma Adelene, com um pesar digno de quem se preocupa muito com o meio
ambiente. Ela usa a felicidade para justificar o amor que a fez, junto com o
filho, criar o aquário. “Estou ajudando o meio ambiente, as pessoas e os
universitários, e isso ainda é um ponto turístico. Sou feliz”. Adelene diz isso
para amenizar as dificuldades que enfrenta, já que a demanda é muito grande.
Um dos responsáveis
pelo resgate das tartarugas é o Projeto Tamar.
Criado em 1980, o Tamar é referência no Brasil e no mundo em
conservação, pesquisa e manejo das tartarugas marinhas. Atua em 25 localidades
de nove estados brasileiros. No Rio Grande Do Norte, o Tamar monitora 33km de
praias no litoral sul do estado, atuando nos municípios de Natal, Parnamirim, Tibau
do Sul, Canguaretama e Baía Formosa. Nessas regiões, a temporada de reprodução
das tartarugas ocorre entre os meses de outubro e maio, e o resultado é de
cerca de 550 ninhos de tartarugas marinhas, o que gera mais de 40 mil filhotes
por período. Desse total, a maior parte - cerca de 97,8% - é da espécie de
pente. Mais de 120 tartarugas já foram registradas, sendo a praia de Pipa o
centro da coleta de dados sobre as fêmeas em atividade reprodutiva.
Além do Projeto Tamar,
o Ibama, a Polícia Ambiental e os Bombeiros são os órgãos que capturam os
animais para recuperação no Aquário e Adelene sempre está pronta para
recebê-los. As tartarugas que são recuperadas são expostas nos aquários ou
devolvidas à natureza, isso dependendo do que o Ibama decidir. Dentre as
espécies mais comuns, o Aquário abriga a tartaruga verde, a oliva e a de pente,
mais frequentes no litoral potiguar. O dia da tartaruga não é apenas um lembrete sobre a vida desses animais, mas sim uma data para conscientizar a todos sobre a importância da preservação da natureza e de todos os seres que dependem dela.
Assinar:
Postar comentários
(
Atom
)
Nenhum comentário