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Arte desvalorizada

Teatro Alberto Maranhão (TAM) encontra-se fechado há dois anos, causando transtorno aos artistas locais.

Por Léo Figueiredo 

 Teatro Alberto Maranhão. Imagem: Léo Figueiredo.

O Teatro Alberto Maranhão (TAM), localizado no bairro Ribeira, na cidade de Natal, é a casa de espetáculo mais antiga da capital potiguar, com estilo clássico e palco italiano. Há dois anos, para infelicidade de artistas da terra, encontra-se interditado para uma reforma que ainda irá acontecer. 
Tendo mais de 100 anos de história, ele, durante muito tempo, foi referência nacional e chegou a ser eleito como o teatro que possuía uma das melhores acústicas do Brasil. O motivo do fechamento foi pelo fato do Corpo de Bombeiros ter interditado o local por questões de segurança. O prédio não estava atendendo as exigências dos Bombeiros, tanto pela sua idade quanto pela sua manutenção. Por ser um patrimônio tombado, a reforma tem que seguir uma série de regras, as quais são supervisionadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Reza a lenda que a maioria da população de Natal não valoriza a cultura potiguar. Agosto, por exemplo, é considerado o mês do folclore, e foi exatamente na capital norte-rio-grandense que residiu aquele que é considerado um ícone no universo folclorista; Luís da Câmara Cascudo. No entanto, as manifestações artísticas ainda são poucas e, quando ocorrem, são minimamente faladas e divulgadas. No Rio de Janeiro, é proibida a entrada no teatro com comida na mão porque é considerado desrespeito. O natalense não tem esse tipo de orientação. E os resquícios dessa herança reverberam por aqui até hoje e, ao que parece, o TAM tornou-se mais um número nas estatísticas.
Natal é uma cidade que não comporta um número ideal de casas de espetáculos; se antes era difícil montar um espetáculo teatral ou de dança na capital potiguar, hoje essa tarefa ganha outro grande bloqueio. É esse o desabafo de Sandemberg Oliveira, 41, professor e delegado de cultura do Conselho Nacional de Políticas Culturais (CNPC). “O TAM é considerado um teatro popular, com preços acessíveis ao público e pautas que encaixam dentro da realidade dos grupos de teatro da cidade. O teatro tem uma capacidade de suporte para 600 pessoas, o que dá bastante visibilidade ao artista. Infelizmente, outros locais, como Casa da Ribeira e Teatro Riachuelo, oferecem pautas exorbitantes, elitizando o trabalho teatral e deixando a classe artística sem muitas opções para expor seus trabalhos”, declarou.

Sandemberg Oliveira, professor e delegado de cultura. Imagem: Léo Figueiredo.

Para o professor, em Natal não há outro teatro com tamanho glamour, e é um pecado que esteja fechado. Ele confessou que no início deste ano procurou a Câmara de Vereadores da cidade para investigar a porcentagem de verba que seria destinada à cultura, e até que ponto esse valor estaria direcionado aos teatros do município, e simplesmente constatou que “Não houve nenhum vereador que externasse preocupação em relação ao TAM”.
Sandemberg revelou ainda que muitos grupos foram surpreendidos com o fechamento do TAM, uma vez que tinham programado suas respectivas apresentações no local. A maioria dos espetáculos dos grupos de Natal e inclusive grupos de fora tiveram que ser cancelados em virtude do fechamento. Ele próprio disse que se sentiu prejudicado, pois possui uma companhia teatral, a Girarte, e com ela tinha planos de se apresentar no TAM. Por isso teve que recorrer ao Teatro de Cultura Popular (TCP), o qual comporta um número reduzido de pessoas.
Essa situação não vem afetando apenas grandes grupos. O Grupo de Teatro Eureka, nascido há pouco tempo e oriundo da graduação ofertada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), sentiu na pele os empecilhos que a falta do TAM representa, suspendendo as apresentações lá marcadas. “É difícil encontrar um espaço que possa comportar nosso espetáculo e que possa ser acessível ao público. E às vezes não encontramos essas duas qualidades no mesmo espaço”, relata Denilson David, 27, diretor do grupo.

Elenco do Grupo de Teatro Eureka. Imagem: Léo Figueiredo.

O Eureka está tendo que pesquisar novos locais, alguns alternativos, para apresentar seu espetáculo mais recente, “Debaixo da Pele”. De acordo com o diretor, todos estão sofrendo com o fechamento do TAM, e isso também prejudica projetos que os artistas firmam com escolas, no intuito de fazer com que os alunos experimentem o fazer teatral no próprio teatro. “Não há onde levar essas escolas e nem onde fazer esses espetáculos. O TCP reabriu há pouco tempo, mas ainda assim não comporta a quantidade de pessoas que o TAM comportava. Isso dificulta a logística de recursos; uma casa que comporta um número menor de público rende um custo e um lucro que muitas vezes não é o ideal”, lamenta Denilson.
Os artistas natalenses unem-se em um coro e a grande maioria concorda: o TAM democratizava o acesso tanto para o público quanto para o artista. O teatro na cidade continua vivo, e os grupos lutam em busca de novos espaços. Existem lugares que não são apropriados, mas que, vez ou outra, em um nobre gesto generoso, cedem seus ambientes, como a Pinacoteca, no bairro Cidade Alta.

A boa e má notícia
É importante lembrar que o TAM não é o primeiro teatro de Natal a encerrar suas atividades. O Sandoval Wanderley, no bairro Alecrim, também fechou suas portas e está completamente abandonado pela prefeitura. Contudo, com a reinauguração do TCP, o atual governador, Robson Faria, cogitou a reabertura do TAM e confirmou já estar reunindo verbas para providenciar o início da reforma do prédio.
Por questões burocráticas e também pela velocidade da restauração, é bastante possível, em uma estimativa positiva, que o TAM venha reabrir suas portas somente daqui a dois anos, impossibilitando que os artistas e o público local usufruam do espaço e, infelizmente, proporcionando que um prédio de tamanho valor histórico fique inutilizável.

 A mensagem de esperança que paira sobre os artistas é proferida pelo delegado de cultura, Sandemberg Oliveira, que recita “O TAM é um teatro que perpassou as mazelas do tempo e clama por alguém que cuide dele, assim como o semeador cuida de uma planta. É preciso que se crie políticas públicas educativas para que o teatro não seja apenas reformado, mas que seja, sobretudo, cuidado”. 

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