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Cumbia* da praia

Por Luana Aladim

     Caminhei durante cinco quilômetros e alguns metros; estava fazendo um belo dia. Talvez um barbudo possa achar que esse é um texto sobre ele: paciência, gafanhoto. Não é. 
     Praia de Ponta Negra. Domingo. Meio dia.  Nada mais propício para a aquisição de câncer de pele. A família do meu lado esquerdo retocava o protetor solar fator 70 na criança. O grupo de amigos à minha direita tentava se proteger do sol. Eu contava o tempo que faltava para tomar meu suplemento de proteína enquanto escutava histórias de tatuagens e da Pipa. 
    Enquanto comparava os ambulantes praieiros natalenses com os ambulantes praieiros recifenses, tive o prazer de constatar que na praia do Morro do Careca a paz reina, mas não existe caldinho de feijão nem de qualquer outra coisa. Existe peixe frito dentro da tapioca.  Existe também um pai e um filho à procura de algo metálico nas areias da praia da zona Sul de Natal.
     A cena poderia, facilmente, ser o início de um filme de Kleber Mendonça Filho*, com a trilha sonora de Academia da Berlinda**. Pois bem, la estavam eles, pai e filho num programa nada convencional de domingo. Nas mãos, um equipamento amarelo. No corpo, calção e camiseta. Na cabeça? Não faço ideia. O barbudo do meu lado disse "vai lá entrevistar eles". Triste do ser humano que escolher o jornalismo, pois não terá férias. Mas o momento era sublime, não pedia objetividade, pedia criatividade.
     A irmã do menino perdeu seu brinco de ouro. A mãe deixou a aliança na praia de propósito, na tentativa de uma separação. O hobby é a coleção de metais. Tantas possibilidades de realidade que, pelo menos nesse caso, nenhuma em especial foi contemplada. Algumas ocasiões pedem uma narrativa bem amarrada. Outras só pedem uma boma história. Outras só precisam cumprir o texto da semana de uma forma meio inusitada. 

*ritmo latinoamericano 
**diretor recifense, autor de "o Som ao redor" e "Aquarius"
***banda olindense

Imagem: http://queroirdenovo.blogspot.com.br/

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