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Tamires Cássia: Desfazendo os mitos Carreira x Maternidade

Subjugada por ter engravidado no auge da carreira, a lateral esquerda da seleção brasileira, é a prova de que ser mãe em nada incapacita a mulher


POR CAMILA EMILY E FRANCISCA PIRES 

Tamires em um dos seus jogos pela seleção (Foto: Divulgação)

Depois de assistir uma partida de futebol feminino na TV, ainda aos 11 anos, a pequena Tamires Cássia Dias Gomes, nascida em Caeté, região metropolitana de Belo Horizonte, decidiu que seria jogadora de futebol profissional. A garota, que sempre gostou de jogar bola, fosse para passar o tempo na companhia dos primos ou para esperar seu pai policial chegar do trabalho, viu na transmissão da partida a oportunidade de mudar de vida através do esporte. Com o sonho bem consolidado em sua mente, quatro anos depois, aos 15 anos, Tamires se mudou para São Paulo para morar com uma tia e tentar seguir a carreira, que na época começou no futsal.

A atleta passou pelas equipes de Guarulhos, Tiger e Estrela. Durante seu tempo no Tiger, Tamires foi levada para fazer um teste de futebol de campo do Juventus, equipe da Mooca, no qual foi selecionada. Atuando na Juventus, ela conheceu seu marido, César, que também era jogador. Dando continuidade a sua carreira, Tamires deixa a Juventus em 2006 e foi para o Santos. Em seguida, mudou-se para os Estados Unidos e lá defendeu o Charlotte Eagles. Voltando ao Brasil, dois anos depois, integrou a equipe do Ferroviária, de Araraquara, São Paulo.

O ano seguinte, 2009, foi decisivo na vida dela. Diante de um resultado positivo para gravidez, Tamires se viu aos 21 anos coberta de dúvidas, considerando as dificuldades enfrentadas pelas mulheres para conciliar carreira e maternidade, somadas ao preconceito das pessoas que desvalorizam a condição de uma atleta que é mãe. A jovem acreditou que teria que desistir do futebol: “Muitas pessoas, quando descobriram que eu estava grávida, falaram para mim: 'agora o futebol para você não existe mais'. Isso entrava na minha cabeça. Pensei: 'é, realmente o futebol está acabado’. Ser mãe é uma coisa tão maravilhosa. A gente aprende, ama muito mais", declarou em entrevista ao programa Encontro com Fátima Bernardes.

Tamires e Bernardo (Foto: Divulgação)

Relacionar carreira e maternidade nunca foi uma tarefa fácil, visto que os nascimentos dos filhos, em geral, representam um grande obstáculo para as mulheres no mercado de trabalho. Segundo pesquisa divulgada pela empresa de recrutamento Catho, as mães deixam o mercado de trabalho cinco vezes mais que os pais. Os dados também mostram que 28% das mulheres deixam o emprego após a chegada dos filhos, versus 5% dos homens, apenas. Além disso, existe um preconceito socialmente enraizado, no qual os homens dificilmente assumem sua responsabilidade e arcam com suas obrigações de pai - enquanto que a mulher é obrigada a ficar em casa cuidado dos filhos, caso contrário não é vista como boa mãe.

Tamires, por sua vez, conta que, apesar de no início a aceitação ter demorado a chegar, foi o apoio de seu marido e da sua família que a motivou a não desistir da sua carreira. A atleta havia passado por quatro clubes quando soube da gravidez do Bernardo e tinha planos de fazer faculdade fora do Brasil. Com a novidade, fez-se necessário um novo planejamento e quase quatro anos inteiramente dedicados à maternidade. No entanto, contrariando todos os comentários negativos, Tamires voltou aos campos e hoje vive seus dias de glória vestindo a camisa da seleção. "Foi realmente a questão profissional. Eu estava jogando e ia aos Estados Unidos para fazer faculdade. Depois disso foi melhorando, fui gostando e fui aprendendo a aproveitar a gestação", disse.

Tamires fazendo homenagem ao seu filho Bernado (Foto: Divulgação)

Mesmo após quatro anos longe dos gramados, o sonho da Tamires de voltar a jogar permaneceu vivo. E seu retorno aconteceu quando ela voltou a São Paulo, onde o futebol feminino é visto com bons olhos e onde há o maior investimento de todo o país. Depois de conseguir a chance de jogar no Centro Olímpico, não demorou muito para que fosse reconhecido todo o seu talento, com dois meses foi convocada para a seleção brasileira. Atualmente, defende o dinamarquês Fortuna Hjorring, e acumula duas convocações com a amarelinha.

Se é difícil conciliar a dupla jornada de trabalho, no mundo esportivo parece ser ainda mais complicado. Para além da vida materna, a atleta precisa conciliar isso tudo a um alto rendimento, que, sem apoio e investimento, torna o processo ainda mais inviável. E, por esses motivos grande, parte das mulheres optam por dedicarem seu tempo integralmente ao esporte. Tamires encarou um de seus maiores adversário fora de campo, causador de medo, ansiedade e incertezas. No fim da partida, contudo, saiu vitoriosa. Desmistificou o mito de que a vida acaba depois da gravidez. Na verdade, a vida começa, duas novas vidas. "Cresci, amadureci, me tornei uma pessoa muito melhor depois que eu fui mãe. No início a aceitação foi muito difícil. Passei três dias chorando, não querendo", entregou Tamires.

A camisa número seis da seleção tem um motivo ainda mais especial, pelo qual entra em campo todas as partidas: Bernardo. Se antes seria um empecilho que a faria parar de jogar, hoje é por quem dá todo o suor dentro de campo. Ela vive o melhor momento da sua carreira e tem ao lado sua maior inspiração. Com confiança, Tamires declara que já ganhou uma das mais significativa dádiva que uma mulher poderia ter, e agora precisa ir em busca do maior prêmio que uma esportista poderia ganhar: a copa do mundo.

Tamires jogando pela seleção Brasileira (Foto: Divulgação)

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