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1964: A retrospectiva do golpe

As faces da ditadura militar e os principais acontecimentos que marcaram o perĂ­odo

POR YLANNA PIRES

(Foto: Evandro Teixeira)
Consumado em 1° de abril de 1964 e planejado pelo levante de tropas de Juiz de Fora (MG), na figura do general OlĂ­mpio MourĂ£o Filho, o golpe militar, entĂ£o instaurado, representaria as duas dĂ©cadas mais sangrentas e insalubres da histĂ³ria recente do Brasil.

Os 55 anos que marcam o “aniversĂ¡rio” do regime militar, memoram ainda o saldo de quatrocentas e trinta e quatro pessoas mortas ou desaparecidas de 1964 a 1985, segundo relatĂ³rio da ComissĂ£o Nacional da Verdade. Essas pessoas, assim como tantas outras, foram perseguidas pelas forças de extermĂ­nio e perseguiĂ§Ă£o da ditadura – Dops e DOI-CODI. 

Tal perĂ­odo, marcado pela institucionalizaĂ§Ă£o da violĂªncia enquanto força polĂ­tica e pela sublimaĂ§Ă£o dos direitos civis e da liberdade de expressĂ£o como artefato de controle humano, Ă© a representaĂ§Ă£o exata do caos estatal que nasce quando nĂ£o hĂ¡ uma separaĂ§Ă£o clara entre os poderes. E, mais ainda, do que acontece quando o senso de humanidade e o respeito aos indivĂ­duos Ă© secularizado. Em nome de uma narrativa, de uma ideologia, de um projeto de poder. 

Projeto de poder este que, apoderando-se da retĂ³rica da ameaça comunista, utilizada para derrubar o presidente democraticamente eleito, JoĂ£o Goulart, perseguiu, matou, torturou e ocultou cadĂ¡veres de estudantes, jornalistas, civis e militantes. Em nome do “bem comum” e da civilidade.

A ditadura, tida como “governo” por saudosistas e revisionistas, teve como principal funĂ§Ă£o destruir as entidades democrĂ¡ticas. 

Da Ă³tica da jurisprudĂªncia, o regime desrespeitou completamente a tripartiĂ§Ă£o de poderes, atribuindo ao Executivo, sob o comando das Forças Armadas, o poder de legislar. AlĂ©m disso, tambĂ©m promoveu a aniquilaĂ§Ă£o de direitos primordiais, como o habeas corpus, e a instauraĂ§Ă£o da censura prĂ©via. Tudo isso, previsto pelo quinto Ato Institucional decretado pela ditadura (AI-5), redigido pelo entĂ£o ministro da justiça, LuĂ­s AntĂ´nio da Gama e Silva. 

Do ponto de vista econĂ´mico, o “milagre” do regime militar, orquestrado pelo terceiro presidente do perĂ­odo, EmĂ­lio Garrastazu MĂ©dici (1969), com suas obras faraĂ´nicas de desenvolvimento industrial – bancadas pelo capital estrangeiro –, enlargueceu a dĂ­vida externa, alimentou uma inflaĂ§Ă£o de 15 a 20% ao ano e estreitou as possibilidades de ascensĂ£o social. O milagre era falso, ou, no mĂ­nimo, fraco, uma vez que nĂ£o aguentou a crise do petrĂ³leo iniciada em 1974.

(Foto: Evandro Teixeira)
Por fim, em uma perspectiva social, a ditadura – em seus 21 anos de existĂªncia – foi palco de torturas, exĂ­lios e repressĂ£o popular. Seu encerramento, em meados de 84, sĂ³ foi possĂ­vel graças Ă s mobilizações sociais em prol das “Diretas JĂ¡” e da completa falĂªncia institucional do regime. 

Diante de tantos fatos, historicamente documentados e testemunhalmente conhecidos, nĂ£o hĂ¡ o que comemorar. NĂ£o existem pontos positivos quando a democracia Ă© suprimida e quando o Ă³dio torna-se moeda polĂ­tica. 

Nesses 55 anos, os Ăºnicos “parabĂ©ns” vĂ¡lidos vĂ£o para quem, dentro das instituições democrĂ¡ticas de direito, defendeu e defende a liberdade, enquanto primazia da condiĂ§Ă£o humana. 


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