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Comer para poder crescer

Por Érica Cabral

Joaninha posa com suas medalhas
ao lado de Érica Cabral nos bastidores do
programa da TVU Xeque-Mate
"Ovo com macarrão!" me respondeu Joana Neves, a Joaninha, (para mim, Joanão) quando lhe perguntei qual a sua comida preferida. Paratleta e medalhista paralímpica na Rio-2016, com duas medalhas de prata e uma de bronze no currículo, esta nadadora velocista potiguar, de 1,23m e 29 anos, representou o Brasil grandemente pela segunda vez, sendo a sua primeira experiência em Londres-2012.

Ao contar sobre a sua trajetória, falou das dificuldades enfrentadas por ela e por sua família durante a sua infância. Após receber o diagnóstico de nanismo acondroplásico – que consiste em uma privação na formação das cartilagens levando a comprometer o crescimento dos ossos, mas mantendo intactas as capacidades cognitivas – passou a ser acompanhada pelos serviços de saúde e chegou a ser submetida a quatro cirurgias corretivas.

Além das cirurgias e sessões de fisioterapia, a sua rotina incluía também episódios de preconceitos, a princípio no ambiente escolar. No entanto, foi neste mesmo local que teve a oportunidade e felicidade de conhecer seu marido, Rodrigo, com quem teve uma criança chamada Janilly, hoje com nove anos.

A natação surgiu em sua vida como tratamento terapêutico, porém, à medida que o seu potencial esportivo foi se revelando, transformou-se em uma atividade profissional.

Fala satisfeita que, hoje, graças às possibilidades advindas do esporte, pode comer o que quiser à vontade e consumir todas as refeições diárias com garantias de obter o aporte calórico e nutricional adequado para as suas necessidades.

Ao ouvir sobre essa satisfação dela, não consegui não me lembrar das crianças que, desde o ventre materno, deixam de ter uma alimentação balanceada, rica em energia, proteínas, vitaminas e minerais e, por isso, desenvolvem um outro tipo de nanismo na vida adulta.

Tais restrições nutricionais prolongadas, além de favorecer a baixa estatura, também afetam a evolução das habilidades físicas e, especialmente, atestam o descaso do poder público com o desenvolvimento das potencialidades intelectuais e sociais de cidadãos.


Para nossa sorte e alegria, a minha Joanão vem driblando, com muita dignidade, determinismos genéticos e sociais que a vida lhe apresentou e enchendo de orgulho a massa papa-jerimum e a nação brasileira.

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