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Mercúrio retrógrado

Por Luiza de Paula


Tempo de reavaliar, revisar, retomar. Tempo que vai de 26/07 a 19/08. Depois, só em 16/11 a 06/12. É o tempo do mercúrio retrógrado. De astrologia, só entendo que sou uma Leonina Made In China – isso foi preconceituoso? Mas confio nos astros e não tenho prova, mas tenho convicção de que algum dia vou fazer jus ao meu signo e serei cheia de autoconfiança, autoestima e brilho! 

Eu bem que estava com a áurea diferente, meio errada, mas sentia que era meio certa também. Minha alma foi invadida por um estado de espírito diferenciado e eu mal sabia que era por influência do Mercúrio girando em sentido reverso. Sempre fui um turbilhão fervente e nunca fui íntima do silêncio. Silêncio era sinônimo de constrangimento e desconforto. Talvez porque propicia o encontro comigo mesma e dar de cara consigo quase nunca é tarefa fácil. Só que os astros me deram uma mão e me mostraram que o silêncio às vezes acalenta a alma. 

Dá resposta para uma série de perguntas. Cria perguntas. Evita estresse. Faz com que você compreenda cristalinamente que discutir, por exemplo, com seguidores que são apóstolos de Bolsonaro e dizem “amém” para toda e qualquer atrocidade manifestada, talvez seja uma estratégia errada. O silêncio nos resguarda e protege. Nos ensina a escutar mais. E nos diz que mais precioso do que isso, só nos ouvirmos com carinho. Com cuidado. Com a compreensão que talvez você nunca tenha de alguém, além de você mesmo (a). O mais precioso foi descobrir que silenciar-se não é uma forma de rendição covarde, mas sim uma maneira de inteligência. 

Último fim de semana de Julho. Estado depressivo. Não sei se é a típica depressão de domingo à noite. Ou se é pelo início de um conturbado semestre letivo. Ou se é pelo palpite intrometido daquela pessoa chata. Ou se foi pelo programa sensacionalista que fui obrigada a ouvir hoje de manhã na casa do meu avô. Ou talvez ainda seja o meu corpo se recuperando da ressaca. Não sei. Talvez seja tudo junto, sabe? E talvez – e é mais provável que seja – Mercúrio me sinalizando de forma sutil de que é preciso parar um pouco, deixar de efervescência e reavaliar esse estado tão vulnerável que é a vida. Reavaliar minha escrita egocêntrica por completa incapacidade de usar a palavra de outro modo (talvez eu nem seja tão leonina made in China assim... Talvez seja só made in Paraguai mesmo). Reavaliar meu lugar dentro do Jornalismo. Dentro do Caderno De Pauta. Reavaliar meu lugar dentro de mim. 

Talvez Mercúrio retrógrado esteja tentando nos fazer revisar e reavaliar onde erramos enquanto humanidade para que torturadores, como Ustra, sejam saudados. Para que o assassinato de Marielle Franco ainda não tenha sido esclarecido. Para que a Samarco possa renegociar as dívidas no exterior. Para que seja dito no Roda Viva que não temos nenhuma dívida histórica com os negros e que aliás, a culpa da escravidão é dos Africanos. Em tempos Pós-Verdade e a flexibilização de conceitos básicos, só tenho a recorrer à Festa Literária Internacional de Paraty. Talvez se tivéssemos 12 FLIPs por ano e se o “castigo” para a galera que adora uma propagação de Fake News fosse ir todo mês à FLIP e conhecer a nossa história, nosso povo e nossa literatura, talvez, talvez, talvez, aliviássemos a barra para o Mercúrio retrógrado. E para todos nós. 

Não posso encerrar esse texto de forma diferente: nesse exato momento meu celular tremeu. Uma mensagem lá do Atlântico. Minha amiga tipo irmã, gênia, atriz e cantora, acabou de ser convidada pela produtora que cuida da carreira dela para participar de um projeto grandioso. Se Mercúrio retrógrado traz tanta sensatez e felicidade, será que os astros não poderiam nos dar uma licença e fazer com que o alinhamento dos planetas permaneça assim para sempre?

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