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Preconceito musical: barreiras a serem quebradas

O fenômeno atinge não somente o meio social, como também o acadêmico

POR GABRIEL MASCENA E LIVIA SOUZA

Entrada da Escola de Música da UFRN (Foto: Gabriel Mascena/Caderno de Pauta)
O preconceito musical não é um acontecimento, em sua totalidade, recente. Suas raízes carregam consigo processos históricos tão antigos quanto a origem dos denominados "estilos musicais", que influenciam diretamente na vida, comportamento e representação dos mais diversos grupos sociais existentes. Tanto no meio comum quanto no acadêmico, o julgamento e a estereotipação estão presentes quando se trata do âmbito da música. São moldados, então, critérios que tentam impor juízos de valor, gerando, além de conflitos e rejeições, a crença na capacidade de qualificar e desqualificar produções musicais.

Ao ser entrevistado, o professor de música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Tiago Carvalho, 34, evidenciou suas principais visões sobre as problemáticas envolvendo a questão musical e suas extensões sociais. "Quando falamos em gosto musical, ou, em um âmbito maior, na valorização que se dá a certo estilo musical, eu penso que esses processos, além do cunho mercadológico, vêm através de construções que são históricas e sociais no geral”, comenta. “Não faz muito sentido compreender tradições musicais tão diferentes, com suas próprias funções e propósitos, em uma mesma linha evolutiva," denota o docente. E finaliza: "A estética de uma música não está separada do contexto social em que ela se insere, assim como as pessoas não aderem aos estilos musicais somente por seus gostos, mas pela identificação e representação que esses gêneros promovem”.

Professor de Música da UFRN, Tiago Carvalho
(Foto: Gabriel Mascena/Caderno de Pauta)
Durante seu discurso, ele também demonstra a apropriação de saberes específicos como um motivo gerador de preconceito musical no meio acadêmico. “É muito comum encontrarmos profissionais que partem do pressuposto de que o conceito de música é baseado apenas em um repertório estudado, por intermédio de um particularismo histórico”, pronuncia o educador. “Eu entendo música a partir de duas formas: a primeira pelo significado social que ela promove e a segunda pelas diversas variáveis que compõem a música para poder formular meu próprio conceito,” acrescenta. Em seguida, o professor discorre sobre a existência de critérios técnicos para categorizar músicas como boas ou ruins, tratando tal fenômeno como natural no meio acadêmico, porém dependente do campo de conhecimento que está sendo estudado, onde os métodos se diferenciam.

Assim como observado pelo docente, o bacharelando em música Tiago Ferreira, 19, crê na existência de critérios técnicos para seu curso focado no estudo do piano clássico, apesar de não ter sido instruído sobre esses métodos. Ele também relata ter experienciado situações de preconceito com seus gostos musicais. "Acredito que isso vem pela falta de conhecimento das pessoas, pois elas não conhecem o repertório de música clássica, que é composto por milhares de compositores, além dos mais famosos", complementa o estudante. Já o professor, por sua vez, ao expôr seu trabalho com a etnomusicologia (área que estuda a música em suas múltiplas dimensões), explica que está aberto a qualquer estilo musical, afirmando acreditar que o respeito e a compreensão podem ser a chave para a intolerância e supervalorização no ramo da música dentro e fora do meio acadêmico.

Sala musical da Escola de Música, na UFRN (Foto: Gabriel Mascena/Caderno de Pauta)
Após um levantamento realizado pelos repórteres, em diferentes locais da UFRN, foi apontada unanimidade nas respostas ao questionamento sobre possíveis experiências com preconceito musical, onde todas as pessoas abordadas afirmaram já terem sofrido alguma intolerância pelos estilos que apreciam. O foco da pesquisa, no perímetro da universidade, voltou-se para todos os gêneros e idades, visando abranger a maior diversidade de pessoas possível.

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