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Jair Bolsonaro: “Se vira polêmica, alguém tá errado e não sou eu”

Acompanhado por seguranças, presidenciável defende redução de impostos e armar população rural; também repete, várias vezes, que não é homofóbico 

Por Augusto Ranier e Yuri Gomes

Bolsonaro participa de entrevista coletiva. Atrás, dois de seus seguranças. Foto: Yuri Gomes/Caderno de Pauta 

A terceira edição do fórum Caminhos do Brasil, organizada pela Fiern, trouxe o deputado federal e pré-candidato à presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro. O evento ocorreu na última quinta-feira (17), às 20h. Nele, além de apresentar propostas, o convidado respondeu às perguntas dos jornalistas, com seu conhecido estilo controverso. 

Mesmo antes da chegada do ex-capitão, percebia-se o clima tenso no local. Frente a tradicional sede da Fiern, localizada na Avenida Salgado Filho, um carro de polícia com giroflex aceso. Homens e mulheres com camisas do PSL, novo partido de Bolsonaro, transitavam pelo local com preocupação. 

No portão, geralmente aberto, estavam deslocados dois seguranças da Fiern para filtrarem a entrada de pessoas hostis ao deputado. 

Jornalistas somente: entramos. Não sem antes sermos barrados e recorrermos a levantar a mão chamando um assessor do local, nosso amigo. 

A ocasião exigia crachá, com nome e “onde trabalha” discriminados. 

Dentro, corriam notícias de uma recepção calorosa no aeroporto – como, aliás, é o costume. Depois, Bolsonaro teria ido ao Palácio dos Esportes onde um palco e microfone foram improvisados. O ginásio, disseram, estava com metade da sua capacidade ocupada – ou seria metade vacante? 

Já o auditório da Fiern, ao contrário, fora reservado completamente com antecedência. Chegou por volta das 19h. Suado, como estava, do esforço depreendido em tirar selfies com simpatizantes e criticar quilombolas, teve de tomar banho. Afinal, até cheirando a flor, careceria da simpatia dos jornalistas. 

O Caderno não pôde confirmar, após o banho, o seu perfume em respeito ao ditado popular. 

Um quarto de hora depois, o deputado entrou na sala onde estávamos. Ainda a ensacar a parte de trás de sua camisa, dirigiu-se à ponta da mesa, tomando lugar entre três seguranças colocados ali sem explicações. Ao ver que o jornalista sentado ao seu lado trajava camisa social de cor rosa, Bolsonaro o abraçou e disse, rindo: 

“Mas eu não sou homofóbico!” 

Risadas contidas depois, começava a coletiva de imprensa. 

Como seria, afinal, o governo com Jair Bolsonaro na presidência? Respondeu, com alguma nostalgia macabra, o plano é ocupar um terço dos seus 15 ministérios com militares – sendo um o Ministério da Defesa. 

“No passado, tinha-se lá corruptos e guerrilheiros e ninguém falava nada. Por que não pode ter militar? Afinal de contas, é o meu meio” 

Inspira-se em Donald Trump e em suas medidas econômicas. Mesmo com déficit primário e quedas na arrecadação, diz ver com bons olhos o corte de impostos no setor produtivo como forma de aquecer a economia. 

“Nós temos que fazer algo parecido aqui. Alguns falam: você não pode abrir mão de impostos porque 93% do orçamento é comprometido com gastos obrigatórios. Mas a continuar como está, o avião vai bater no rochedo”. 

Adicionaria, mais tarde: 

“Nós temos que facilitar a vida de quem quer empreender. Eu não quero ser patrão no Brasil! Se cada um botar a cabeça no lugar, tem que ter muita coragem para ser patrão no Brasil” 

Quando pedido para ser mais específico nas suas propostas, diz que quem tratará desses assuntos detalhadamente será seu ministro da Fazenda, Paulo Guedes, de ideologia liberal. 

No entanto, mudado o assunto para a permissão do porte de armas para todos os cidadãos, seu interesse se avoluma. Bolsonaro pretende, como contrapartida as ocupações de movimentos dos sem-terra, armar com fuzis a população rural. Mostra-se orgulhoso ao mencionar a adesão do presidenciável do PSDB a essa ideia. 

“Parabéns, Alckmin. Tá caindo na real” 

Após a entrevista, haveria ainda uma palestra. O tempo era curto. A assessoria da Fiern, vendo o avançado da hora, declarou finalizada a sabatina. Ele responderia, então, apenas perguntas de jornalistas televisivos. O canditado, vendo que a última pergunta fora proferida por alguém do sexo feminino, soltou: 

“Olha, isso é discriminação com as mulheres, viu?” 

Partíamos para o auditório quando alguém finalmente perguntou sobre ideologia de gênero. O deputado, contrariado, disse que defende a família e que “se vira polêmica, alguém tá errado e não sou eu”. 

Mas não havia tempo de acompanhar o resto. Era preciso chegar ao auditório o quanto antes. No possivelmente menor elevador que já vimos, redescobrimos o significado da palava “imprensa”. 

Chegamos no térreo: imprensa livre. O clima no lugar era outro. Facilmente distinguia-se quem trabalhava na campanha de Jair Bolsonaro e quem não. Os ligados ao candidato, quase em sua totalidade, usavam camisas com a cara do “mito” estampada. Já os que foram apenas para ver a palestra, vestiam camisas sociais ou polo. 

É fácil imaginar que, com tantos pedidos de selfie, o eventou demorou a ter início. Primeiro, porém, seria executado o hino nacional. Todos ficaram de pé e se puseram a entoá-lo com louvor, cantando em alto e bom som. 

Tendo fim o ato patriótico, pôde-se perceber a animação de alguns por estarem na presença seu candidato. Atrás de onde sentávamos, quatro garotos não continham o riso adolescente. Não deviam ter mais de 16 anos. 

“Ele tá sentado ali, galado! Que sorte” 

Bolsonaro toma seu lugar. Ao seu lado esquerdo, Amaro Salles, Presidente da Fiern. Foto: Augusto Ranier / Caderno de Pauta 

Quando finalmente subiu no púlpito, entregou uma exposição mais didática e cheia de gracejos. Defendeu, novamente, o posse de armas, a diminuição de impostos e exclusão de ilicitude para a polícia (que já existe). É interessante perceber como, com o tempo, dominou a técnica que encerrar sentenças com frases fortes de forma a provocar aplausos na plateia. Estes nunca o faltavam. 

A assistência do evento era predominantemente masculina. Todos riram e aplaudiram quando o deputado afirmou que sua candidatura era “imbroxável”. 

Mas nem tanto quando afirmou que transformaria os quilombolas em “quilombutz”, em referência aos kibutz israelenses, comunidades autônomas e igualitárias sustentadas pelo trabalho agrícola nas propriedades coletivas. Ué? 

O delírio foi geral quando disse que era o “último obstáculo para o socialismo”. 

No ponto de maior excitação, a plateia explodiu com assobios e gritos de “mito”. Bolsonaro gostou. 

Recentemente foi notícia sua recusa em participar de eventos com outros pré-candidatos (Fórum da Liberdade e Encontro com Presidenciáveis da Frente Nacional de Prefeitos). Respondeu que “não encheria a bola de candidatos com 1%”. Compareceram o segundo e o terceiro lugar, Marina e Ciro. Ela empatada tecnicamente com o primeiro lugar, ele logo abaixo dos dois com 9 a 12%. 

Para Bolsonaro, sua liderança nas pesquisas eleitorais o transforma no “único candidato popular”. Sendo assim, estaria em um patamar quase de celebração, enquanto os outros candidatos, diz, desacreditados. Afinal “O Flamengo aqui não joga com time de quarta divisão”, referindo-se a si. Novamente, estava enganado. 

Derrota contra o Macaé, que joga na série D, pelo Campeonato Carioca de 2018. Reprodução: Globoesporte.

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