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Laçaço: ato performático no Forte dos Reis Magos

Por Beatriz Navarro

Foto: Sarah Claudisa

O dia 27 de Abril era para ser mais um aleatório do calendário. Contudo, ao som de Declan McKenna, com a música Brazil, eu chorei de emoção vendo meu primeiro ato performático. A música critica a FIFA, que ignorando a desigualdade social profunda do país, decidiu fazer a Copa do Mundo aqui, em 2014. Ou seja, mostra os países e as grandes empresas como fatores dominantes que abandonam o “qualquer” pelo lucro e a política do “pão e circo”. Por outro lado, aqueles que mais precisam, inclusive os próprios patrimônios, que possuem uma vasta herança histórica, são deixados de lado, como algo sem importância. A Fortaleza dos Reis Magos é um deles, e foi construída em 1599 por Filipe II, rei da Espanha. Ela se encontra no Rio Grande do Norte, ao lado da ponte Newton Navarro. Contudo, a manutenção do Forte foi extinta há anos, mostrando, mais uma vez, que os gestores não ligam para seus próprios patrimônios materiais. 

Em resposta a isso, o Grupo de Pesquisa Zeitgeist, organizado e orientado pela professora Regina Johas, planejou um ato performático chamado Laçaço. O objetivo é encaminhar uma mensagem à gestão do Forte. “O Forte está muito abandonado. A ideia é fazer um abraço nele, numa declaração de afeto simbólico, no sentido de que a comunidade se importa com o monumento, se importa com o patrimônio”, conta Regina. O Zeitgeist estuda “intervenções artísticas que são práticas orientadas para termos específicos, normalmente de cunho político, tendo uma voz”.

Foto: Sarah Claudisa

Os estudantes do Departamento de Artes se juntaram com os do Departamento de Comunicação com o intuito de performar e registrar esse ato em um mini documentário, dando mais visibilidade. Liderados pelo professor Daniel Meirinho, eles estiveram presentes desde o primeiro pé fora do ônibus, até a volta para casa, fotografando e filmando os participantes, que davam orgulho para todos que ali estavam. 

Durante a performance, tiveram pessoas de fora observando, curiosas, mas que quando entenderam, gritaram de emoção “é isso aí, parabéns, vocês estão certíssimos!” e não pouparam os registros. Os que estavam enlaçando, passaram cerca de dez minutos caminhando e segurando aquele grande tecido amarelo. Cansados, mas esforçados, eles lutaram contra os puxões, as curvas, a gravidade e o vento forte, deram um show de resistência e persistência. Mostraram para o que vieram. Não ficaram calados.

Foto: Sarah Claudisa
Para quem estava lá foi emocionante demais. Quando coloquei o fone de ouvido e começou a música animada, com um extremo significado, não aguentei. Foi uma mistura de orgulho e indignação. Tinha beleza nas cores, nas texturas, mas principalmente, na visão da união de pessoas que estavam ali por um objetivo.

Foto: Sarah Claudisa

Quando perguntada sobre futuras intervenções do Laçaço, a professora e artista de 51 anos, Regina, fica intrigada “será? A gente pode pegar uma grande fita amarela e sair amarrando a cidade inteira para ver se levanta ela do buraco”. Eu concordo, Regina. E se quiser apoio, não sou só eu que estou aqui. São os estudantes e os professores, mas também é aquela senhora que só estava visitando um ponto turístico e esbarrou na gente. De qualquer maneira, dia 27, definitivamente, não foi um dia aleatório.

O mini documentário será exibido dia 16 de Maio, às 14h, na abertura do evento Reperformar o Afeto: professores performers, no DEART.

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