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Ler: viajar, conectar, imaginar, aprender, mudar, viver

Seja para adquirir conhecimento, seja para buscar refúgio, os livros fazem parte da vida de muitas pessoas, e seis delas contam sobre suas relações com obras literárias

POR LUCIANO VAGNO

No dia 29 de outubro é comemorado o Dia Nacional do Livro. A comemoração é uma homenagem à Biblioteca Nacional, fundada em 1810 pela coroa portuguesa. O livro, apesar das evoluções que ocorreram na sociedade, segue sendo um dos principais meios de conhecimento, expressão e refúgio. Não é difícil encontrarmos pessoas das mais variadas idades andando por aí com uma obra literária nas mãos, debaixo do braço ou dentro da mochila.

Como dizia o poeta: “Ler é sonhar pela mão de outrem”. Não importa o gênero ou autor, quem lê viaja pelas palavras e quer sempre saber o que tem na próxima página. Seja através de uma tela digital ou passando as folhas, seja um gibi, ou uma biografia, ao ler, adentramos naquele universo envolvente e saímos trazendo sensações inexplicáveis.

Conheça seis personagens reais e suas relações com os livros:

Suerly encontrou nos livros companhia durante a adolescência (Foto: Luciano Vagno/Caderno de Pauta)

A jovem Suerly Araújo, 23 anos, conta que ama ler e que começou a navegar pelas palavras desde os cinco anos de idade. Ela recorda que suas primeiras leituras foram os quadrinhos da Turma da Mônica, os quais colecionava. Porém, posteriormente, passou a doá-los por não ter mais espaço em casa.

Sobre sua relação com os livros, Suerly conta: “Começou com coisas básicas, tipo, o livro Diário da Princesa, nossa, eu amava. E foi crescendo, sabe? Eu não parava de ler. Quando eu estava em um canto, eu lia, porque eu era muito solitária na minha adolescência, e os livros foram, tipo, é meio clichê, mas foram um refúgio, sempre foram. Sempre foram uma companhia”.

A vestibulanda, que sonha em cursar Psicologia, diz que seu livro favorito é, com toda certeza, Harry Potter. Ela comenta sobre o que mais gosta na obra de J. K. Rowling: “O universo da magia... O Harry, sua infância sem os pais, tudo o que ele sofreu, o que ele passou; e ele encontrou a força nos amigos, na escola; isso é tão admirável, sabe? E isso foi tão importante para mim, no meu crescimento”. Suerly conta que ama toda a saga em torno do famoso bruxo, porém seu livro preferido é Harry Potter e o Prisioneiro de Askaban.

“A leitura nos dias de hoje é essencial, porque, além de você estar agregando conhecimento a si próprio, você conhece palavras novas, você viaja para outros lugares. Tem toda essa magia da leitura. Acho essencial os pais incentivarem, mesmo sendo com gibi, depois indo aumentando o nível com outros mais simples, como O Diário de um Banana, os livros da Thalita Rebouças... Depois vai aumentando, a criança vai adquirindo seu próprio gosto, e por aí vai”, conclui.

O estudante Morvan adquiriu o hábito da leitura há três anos, e vê a Literatura como uma forma de comunicação (Foto: Luciano Vagno/Caderno de Pauta)

Morvan Willian, 20 anos, conta que sua relação com os livros começou quando estava se preparando para o Enem, há cerca de três anos. “Eu não tinha muito contato com a leitura, não tinha o hábito de ler. Eu meio que fui obrigado a ler alguns livros que me fizeram pegar o gosto. Comecei a ler para melhorar minha interpretação de texto. Li todos os livros do Percy Jackson, Maquiavel e outros”, conta o jovem.

No momento de nossa entrevista, Morvan estava lendo o livro As Afinidades Eletivas, do alemão Goethe. Ele conta que já havia lido Fausto, de mesma autoria, o que lhe fez se interessar pelo autor. O estudante de Ciências Sociais revelou que possui uma lista de livros que serão lidos futuramente.

O jovem diz também que lê muito por conta do seu curso, já que o mesmo possui uma grande carga de leitura. Para Morvan, ler é uma forma de comunicação que vai para além da comunicação do dia a dia. “É uma forma atemporal de se conectar com o mundo”, explica.

Por influência de sua irmã, Nayara desenvolveu gosto por obras literárias (Foto: Luciano Vagno/Caderno de Pauta)

A vestibulanda Nayara Oliveira, 20 anos, conta que geralmente gosta de ler livros de romance e ficção. Questionada sobre de onde vem esse gosto, a jovem diz que pela influência da irmã mais velha. “Ela gosta de ler, aí eu comecei a ler os livros dela e passei a me interessar”, conta.

A jovem, que está estudando para ingressar no curso de Fisioterapia, relata que hoje não possui tanto tempo para leitura, entretanto está constantemente comprando novas obras e tentando lê-las quando pode.

Nayara revela que seu livro preferido é Quem é Você, Alasca, de John Green, autor conhecido, sobretudo, pelo público jovem. Sobre o livro, ela comenta: “Ele é muito bom. Graças a ele eu fiz amizades, e eu sempre estou emprestando pra todo mundo. Eu acho uma história muito bonita. E é muito chocante, porque não é um romance normal – o garoto fica com a garota no final – tem um impasse no meio. É a vida real. Ele demonstra a vida real de adolescentes”.

Para Nayara, a leitura é importante, pois através dela é possível adquirir conhecimento: "Não importa qual livro você leia. Instiga a imaginação, também”, diz a jovem. “Eu não sei como seria um mundo sem os livros. Não consigo imaginar”, acrescenta.

Joana cresceu rodeada de livros e hoje enxerga neles a maneira de adquirir conhecimento (Foto: Luciano Vagno/Caderno de Pauta)

A estudante de Jornalismo Joana Teles Ferreira, 20 anos, diz que nunca leu muito, embora goste da prática. Ela conta que sempre esteve rodeada obras literárias em sua casa. No Natal, por exemplo, sua família tem o costume de presentear com livros.

“Meu pai nunca me obrigou a ler. Por exemplo, eu sei que muitos pais estipulam horas do dia para que seus filhos leiam, e ele nunca fez isso. Ele simplesmente me deixava à vontade com os livros que comprou durante a vida dele e os deixou para mim e meu irmão”, explica.

A portuguesa, natural de Coimbra, revela que na infância não aproveitou tanto os livros que seus pais lhe deram. No entanto, ela diz que, na medida em que foi crescendo, começou a ler os livros de seu pai, e passou a cultivar sua própria estante de obras literárias.

Um livro que gostou muito de ter lido foi Ensaio Sobre a Cegueira, do escritor português José Saramago, sobre o qual a jovem comenta: “Gostei muito. Acho que é um livro muito bem escrito. Saramago é conhecido por ter uma escrita bem autônoma, ele quebra as regras. O livro tem uma história bem interessante, intensa; não é real, obviamente, mas me interessou muito”. Joana diz que atualmente está lendo os livros O Homem Mais Rico da Babilônia, Pai Rico, Pai Pobre e 1808, e busca, através deles, aprender de forma autônoma, e não, como diz, por influência dos outros.

Eliabe ao lado de geloteca, no Centro de Convivência, onde encontrava-se folheando livros (Foto: Luciano Vagno/Caderno de Pauta)

E quem pensa que só aluno de Humanas é que gosta de ler está enganado. Eliabe dos Santos, 21 anos, estudante de Ciência e Tecnologia, fala sobre sua relação com os livros: “Eu gosto muito de ler, principalmente livros de psicologia. Ainda que eu seja de Ciências Exatas, gosto muito de psicologia, filosofia... E livros de matemática também”.

Perguntado sobre qual foi o primeiro livro que leu, Eliabe confessa não lembrar do nome, porém recorda que tinha 15 anos, que a obra era sobre inteligência artificial e se tratava de um relacionamento entre um robô e um ser humano. Além disso, o rapaz revela que foi nesse momento que despertou o interesse pelos livros e passou a ler outros.

Eliabe conta que a obra literária que marcou sua vida foi A Menina que Roubava Livros e explica que a história se passa durante o Nazismo, e que uma menina, Liesel Meminger, gosta de ler, porém, naquela época, o Partido Nazista queimava os livros. O jovem diz que a obra pôde lhe mostrar como as pessoas viviam naquela época.

“Eu acho que a leitura abre novos horizontes, tipo, no meu caso, quando comecei a ler livros de filosofia e psicologia, isso abriu muito a minha cabeça. Eu era muito fechado às Ciências Exatas e, quando comecei a ler esses livros, me senti uma pessoa diferente, minha cabeça mudou bastante. Então, eu acho que os livros servem para abrir as cabeças das pessoas, para sair da bolha”, conta.

Desde criança tenho gosto pela leitura. Hoje, tento passar isso para meu irmão menor e pretendo passar para meus filhos (Foto: Luciano Vagno/Caderno de Pauta)

E eu. Não lembro com exatidão quantos anos tinha quando ganhei meu primeiro livro, talvez uns cinco. Embora eu não recorde o nome da obra, lembro perfeitamente da primeira frase dela: “No Bosque dos Cem Acres, o Tigrão conversava com o Pooh”. Eu lia e relia aquele livro de poucas páginas constantemente, até que o perdi. Sempre gostei de ler. Ninguém nunca me disse “Leia”, eu que busquei esse prazer para mim.

Mais recentemente, me vi apaixonado por uma obra literária: O Diário de Anne Frank. Eu aguardava impaciente o dia em que entraria em uma livraria e diria “Quero ele”. No entanto, tive uma surpresa. Nas vésperas do meu aniversário de 20 anos, uma amiga me disse que o havia comprado e eu pedi emprestado para ler. Mergulhei naquelas palavras criadas pela jovem judia e tudo que eu pensava era “Uau!”. Dias depois, outra surpresa: minha amiga pediu o livro por uns minutos e, quando me entregou, estava escrito: “Espero que aproveite o presente.” Mal podia acreditar que agora eu tinha o livro que me imaginei tendo um dia.

Assim como os entrevistados para essa matéria, reconheço que ler é uma forma de se conectar consigo, crescer, encontrar abrigo e viver de forma mais leve. Lendo, é possível adentrar uma porta e viver, por breves momentos, outra época, em outro lugar, outra vida... “Sonhar pelas mãos de outrem”. Ao sair, levamos saberes, referências, questionamentos, respostas, sorrisos, lágrimas e a vontade de ler mais um pouquinho. Até a próxima leitura.

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