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Mentor Espiritual e cartomantes sofrem censura nas ruas de Natal, Rio Grande do Norte

Ao decorrer de toda a cidade, é possível encontrar lambes rasgados e pintados em forma de X


POR GABRIELLE BORGES, GUILHERME DE OLIVEIRA E HANNA ARAÚJO 

Avenida Capitão Mor Gouveia, em frente a parada do Setor 2/UFRN (Foto: Guilherme de Oliveira/Caderno de Pauta)

A Cartomancia é um sistema de adivinhação que utiliza cartas (baralho) para prever o futuro, muito usado por povos no passado na tomada de decisões importantes. Para alguns historiadores, ela surgiu na China por volta do ano de 1100 depois de Cristo, onde era um dos métodos utilizados pelo imperador S’uen-ho. Também conhecida como tarô, começou a ser estudada definitivamente pelos grandes ocultistas e, no século XX, se popularizou entre os esotéricos. Chegando ao Ocidente pelos povos ciganos.

Uma cultura antiga, mas que ainda hoje sofre com preconceitos. Em Natal, ao decorrer não só da Avenida Senador Salgado Filho, mas também de diversas outras partes da cidade, é possível perceber uma censura com os cartomantes que promovem seu trabalho através de cartazes. A ação evidencia intolerância religiosa, que nada mais é do que a falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar diferenças ou crenças de terceiros. No Brasil, ela é considerada crime de ódio, sendo classificada como inafiançável e imprescritível.

De acordo com Rita de Cássia (19), estudante de Gestão Hospitalar da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), “ter uma crença e ver uma pichação como essa é falta de amor e respeito”.

Para a estudante de jornalismo, Beatriz Araújo (21), algo que chama atenção é o fato dos cartazes que divulgam os jogos de cartas e búzios estarem danificados precisamente nos locais que informam o número de contato. A estudante acredita que é uma forma de dificultar as pessoas de chegarem até os profissionais que prestam o serviço. "Acredito que isso está ligado à intolerância religiosa, intolerância a crenças e práticas diferentes, divergentes das dominantes (cristãs). Eu sou agnóstica, e acredito que todas a religiões e crenças devem ser respeitadas. Todos têm o direito de acreditar no que querem e isso deve ser respeitado, como também deve ser respeitado o direito de não acreditar em nada", encerra Beatriz.

A cartomante Madame Carlota de 54 anos, conta que desde da infância sofre com a intolerância por partes das pessoas. Quando morava no Amazonas, Manaus, alguns moradores daquela região jogavam pedras na porta de sua casa na época da Semana Santa. Para aquelas pessoas, ela e a família simbolizavam o Judas Iscariotes, o que traiu Jesus e foi digno de condenação.

Tiragem de cartas de Tarô
(Foto: Arquivo pessoal da Carlota)
Carlota começou a prática da quiromancia, leituras das mãos, ainda criança, sendo ensinada pela avó. Aos de 10 anos, já lia cartas para suas amigas na escola. Além de ser cartomante, ela ainda encontra preconceito por ser "cigana", que segundo ela é um termo pejorativo, o correto seria "Romi".

"A intolerância é algo terrível, quando chegava em locais públicos sentia preconceito e olhares de discriminação, desde criança senti na pele a intolerância”, desabafa. Hoje sua família conta com proteção judicial, mantendo-se de certa forma segura de crimes de intolerância. Faz 35 anos que é cartomante e ver os cartazes pintados e rasgados na Av. Bernardo Vieira, segundo ela, "é triste”.

Infelizmente, a falta de reconhecimento e respeito às diferentes crenças ainda está presente na sociedade, e constantemente ouve-se falar, assim como são presenciadas, ofensas e ataques tanto a indivíduos quanto a grupos. Porém, a decisão de dar o primeiro passo ao respeito e empatia ao próximo deve ser sempre particular, e com o testemunho da atitude, transformar mentes e alcançar uma harmonia.

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