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Atos do movimento “Ele Não” tomam as ruas do país e do mundo

Municípios de todos os estados brasileiros receberam as manifestações contra Jair Bolsonaro 

Por Kamila Tuenia e Marco Veppo 

Mulheres, meninas, rapazes, LGBTs, negros e negras, senhoras, crianças, pessoas de todas as classes e de diferentes expressões políticas estiveram ontem (29) reunidos por um só grito. O movimento Mulheres Unidas Contra Bolsonaro fez ecoar nacional e internacionalmente nas ruas a hashtag #EleNão que nos dias anteriores tomou grandes proporções nas redes sociais. 

A campanha surgiu da organização virtual de mulheres em um grupo na rede social Facebook, que em pouco tempo já contava com milhões de participantes. Elas se mobilizaram para ocupar as ruas não só contra Jair Bolsonaro, mas contra o fascismo, o conservadorismo e o preconceito que ele e seus eleitores têm demonstrado. 

Em Natal, um dos cruzamentos mais movimentados nunca esteve tão cheio - não eram carros que passavam, eram mulheres. Com seus balões lilás, bandeiras de diversos movimentos, cartazes, batucadas e palavras de ordem, deram cor e voz ao movimento que contou com cerca de 12 mil pessoas, estimadas pela organização. O shopping mais movimentado da cidade, Midway Mall, foi ocupado pelos manifestantes por um tempo, já que as ruas estavam tão cheias que se tornava difícil de transitar. A manifestação foi pacífica e não foram registradas ocorrências de qualquer ação violenta ou desrespeitosa. 

Manifestação do movimento Ele Não em Natal/RN, 29 de Setembro de 2018. Foto: Portal Macaíba no Ar

A multidão gritava “Ele Não” repetidamente e cantava a paródia da canção “Bella ciao”, símbolo da resistência italiana contra o fascismo na Segunda Guerra Mundial. Diziam “Somos mulheres, a resistência, por Brasil sem fascismo e sem horror, vamos à luta pra derrotar o ódio e pregar o amor”, fazendo arrepiar os e as manifestantes presentes. 

Para Alna Atena, estudante do IFRN, o candidato do PSL não a representa por ser LGBTfóbico, machista e racista. “Eu sou a primeira mulher trans a se formar no curso de Multimídia do IFRN, se dependesse dele, isso jamais aconteceria, eu aqui hoje pra fortalecer essa causa e para lutar por todos aqueles e aquelas que sofrem opressão todos os dias”, conclui. 

Historicamente, as mulheres protagonizam os movimentos políticos e de resistência aos retrocessos, como relembra Isolda Dantas, vereadora de Mossoró e candidata a deputada estadual: “Em 2015, quando nós mulheres ocupamos as ruas de Brasília com a Marcha das Margaridas chamando o Fora Cunha, já sabíamos que ele era uma grande ameaça a democracia. E mais uma vez nós percebemos o risco que é o avanço do fascismo e do conservadorismo, então cabe a nós mulheres feministas e de luta, tomar a frente dessa batalha e vencer, derrotando o machismo e o patriarcado”. 

Mossoró também registrou um dos maiores atos do estado, reunindo cerca de 3 mil pessoas na caminhada da Praça do Pax ao Teatro Dix-Huit Rosado. Para a militante da Juventude do PT, Letícia Cely, esse foi um momento histórico e de extrema importância: “Isso mostra o quanto nós somos protagonistas desse movimento, o quanto as mulheres são vanguardistas em dizer não ao fascismo, ao machismo, racismo e a homofobia”. 

Ela afirma ainda que é extremamente preocupante que Bolsonaro seja o primeiro nas pesquisas eleitorais. “Ele diz que temos que receber menores salários que homens porque engravidamos, que crianças que são criadas por mães e avós tendem ao mundo do crime, e tenta aprovar um PL que retira o nosso direito de ser atendida pelo SUS em caso de abuso sexual. Por tudo isso que dissemos não nas ruas e diremos novamente nas urnas”, disse. 

O movimento que reuniu milhões de pessoas no país e no mundo inteiro. Segundo o DATAFOLHA, Jair Bolsonaro lidera as recentes pesquisas de intenção de voto para o primeiro turno, com 28%, seguido por Fernando Haddad, do PT, que tem 22%. 

Portugal 

Manifestação em frente à igreja do Carmo. Foto: Cibelle Moreira

Fora do país, as manifestações contra o candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro também ocorreram. Em Porto, Portugal, mulheres se reuniram na praça Fonte dos Leões, próxima à Igreja do Carmo, um dos pontos turísticos da cidade. Elas gritavam “Ele Não” e mantinham seus cartazes de protesto à mostra. Além de menções contra alguns pronunciamentos homofóbicos e racistas do candidato, as mulheres citaram e defenderam movimentos indígenas. Houve, também, manifestação à favor do ex-presidente Lula. 

Organizado nas redes sociais, o protesto começou por volta das 15h, horário local. Contou com brasileiros e portugueses e, segunda a polícia, cerca de 250 pessoas estavam presentes. 

Para Ariane Meireles, ex-moradora do Porto, o candidato representa tudo de pior: “Nós sabemos que precisamos nos unir muito. As mulheres precisam se juntar, porque não está fácil.” Ela também comenta que, negros e LGBT’s são os grupos que mais irão sofrer, caso Jair Bolsonaro se eleja. 

"Mulheres: aquela fonte de resistência que você respeita!" Foto: Cibelle Moreira

Algumas personalidades estavam presentes na manifestação. Foi o caso de Fátima Guedes, ex-presa política na época da ditadura militar no Brasil. Ela conta que sofreu no sangue, na alma e no corpo o processo da ditadura. “Para mim tortura nunca mais. O Bolsonaro representa o fascismo, com sua pobreza de caráter.” Quando questionada sobre o porque de fazer uma manifestação mesmo fora do Brasil, ela responde: “Eu costumo dizer que minha memória recusa esquecer a dor da tortura. Eu não esqueço. Por não esquecer eu me mantenho na luta".

Houve também protestos na capital Lisboa. Além de Portugal, os protestos ocorrem em Nova York, Londres, Lisboa, Barcelona e Cidade do México.

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