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A resistência de uma mulher, mãe e estudante na área da tecnologia

Tayanne Rocha relatou sua experiência no segundo dia da Campus Party Natal e emocionou a todas

POR HILDA VASCONCELOS

Tay mostrando registros de sua vida como mãe (Foto: Hilda Vasconcelos/Caderno de Pauta)
Estudantes mulheres são maioria na  Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e muitas delas em período fértil. Apesar de ter políticas de incentivo à permanência para gestantes, muitas estudantes relatam a escassez de medidas suficientes para garantir que deem continuidade aos seus cursos durante e após a gravidez. Tayanne Rocha, 27, é bacharelanda em Tecnologia da Informação pela Universidade e é programadora, educadora e mãe de dois filhos. No segundo dia da Campus Party Natal 2019, ela ministrou a conversa "O problema é na placa mãe...": as dificuldades de ser mulher e mãe na TI, no espaço da comunidade As Boyzinhas Arretadas, localizado na Arena do evento.

Tayanne ingressou na UFRN, pela primeira vez, em Publicidade e Propaganda. Na época, estava prestes a dar a luz à primeira filha, Luise Rocha. A palestrante contou que  antes e depois do nascimento de sua primogênita, enfrentou muitas dificuldades no ambiente acadêmico. Partindo de olhares e palavras de julgamento feitos por colegas e professores, até a impossibilidade de manter sua graduação devido à falta de assistência e compreensão da equipe pedagógica e docente do curso. A estudante chegou a precisar realizar o trancamento de semestres devido às condições em que se encontrava. Ela precisou desistir dos estudos  por despreparo e falta de apoio da Academia.

Um ano depois, por se identificar com a programação e a área da tecnologia, prestou vestibular para o Bacharelado em Tecnologia da Informação e foi aprovada. No início da nova graduação, a aluna estava grávida de seu segundo filho, Frank Rocha, e conta que se surpreendeu com o acolhimento do Instituto Metrópole Digital (IMD), que foi como uma mãe pra ela, dos estudantes e servidores. Ela relatou que, por vezes, uma de suas professoras ministrou aulas exclusivamente para ela via videochat e diversos docentes permitiram sua entrada em sala acompanhada de Luise e de Frank, que estava em fase de amamentação.

“Antes de sofrer preconceito por ser mãe, sofro preconceito por ser mulher” (Foto: Hilda Vasconcelos/Caderno de Pauta)
“Antes de sofrer preconceito por ser mãe, eu sofro preconceito por ser mulher”, conta. Mesmo com boa recepção em seu novo curso, Tayanne sofreu machismo e misoginia em um ambiente dominado, em sua maioria, por homens. Disse conhecer poucas mulheres no IMD e que o preconceito ainda continua.

“Eu faço tudo isso para lembrar que eu sou uma pessoa”

Ainda durante os primeiros anos de curso, Tayanne se divorciou do pai de seus filhos e descobriu que o caçula tem Asperger, estado do espectro autista, geralmente com maior adaptação funcional. Desde então, seu filho é acompanhado por oito profissionais. Hoje, a mãe se vê dividida entre a criação e educação das crianças, a necessidade de levá-las a médicos, o trabalho e a dedicação a seu bacharelado. Se perguntada porque tem esta rotina, ela simplesmente responde: “Eu faço tudo isso para lembrar que eu sou uma pessoa, mesmo quando a sociedade cobra que eu seja apenas mãe”, afirma emocionada.

O problema é mesmo na placa-mãe?

Ao final de sua fala, a palestrante indagou aos presentes: o título da conversa era só merchandising? Em seguida, explica: “Quando um computador quebra, se diz logo que o problema é na placa-mãe e já se pensa que precisa comprar um novo aparelho. Na verdade, basta fazer ajustes para consertar a placa. Assim funciona com uma mulher que é estudante, trabalhadora e mãe; ela não precisa abdicar de suas tarefas pessoais para se dedicar à maternidade, mas apenas fazer alguns ajustes e mudanças para equilibrar sua rotina”, concluiu.

2 comentários:

  1. Sinônimo de inspiração dentro do curso, e espelho de mulher pra vida. Parabéns, meu bem. Pela palestra, pela história de vida e por ser essa mulher incrível ^~^

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  2. Maravilhosa, inspiração! Admiro demais. Parabéns, Tay. Que muitas outras conquistas e superações estejam a caminho! <3

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