Por Marcelha Pereira
Resumo
Sexta-feira, 29 de julho de 2016. A circulação de áudios oriundos do Presídio
Estadual de Parnamirim (PEP) começava pelo aplicativo de mensagens
instantâneas, WhatsApp. Os presos eram contra a ordem do governo do
Estado de instalar bloqueadores de sinal de telefonia móvel e caso a
instalação continuasse no presídio, eles iriam atear fogo em
ônibus – além de cometer outros crimes. Através dos áudios eles diziam à população para não sair de casa a partir das 18h do
dia.
Porém,
os ataques começaram próximo às 13h em um micro-ônibus na
estrada RN-304, próximo a Macaíba. E não pararam, até o dia 12 de
agosto, já se somavam 114 ataques em 40 municípios do Rio Grande do
Norte, entre eles estão os atos contra prédios públicos e
privados, incêndios e tentativas de incêndio.
População afetada
Na sexta-feira (29), próximo às 17h, os motoristas de ônibus de
algumas empresas receberam ordem de voltarem para as garagens. Com a falta de
transporte, a prefeitura municipal através de rede social informou a
autorização concedida pelo DER (Departamento Estadual de Rodovias) para que
vans escolares, táxis e ônibus de fretamento realizassem serviço de lotação até
o final da paralisação dos rodoviários. Porém, por causa da superlotação, nem
toda a população que estava na rua conseguiu voltar para casa por meio dessas
opções alternativas e tiveram que ir ao seu destino andando ou por meio de
carona.
Quem
mais cedo não havia acreditado na veracidade dos áudios, começava
a mudar de ideia e a descrença tornou-se medo. Outros não sabiam da
existência dos áudios e foram pegos de surpresa. Na UFRN, os circulares pararam de rodar e os estudantes tiveram que sair a pé do campus para conseguirem chegar à parada do Via Direta e pegarem algum meio de transporte para casa.
O caos estava feito. No começo da semana seguinte, com a frota de ônibus reduzida, algumas escolas e faculdades cancelaram suas atividades e tiveram o calendário acadêmico prejudicado; e quem tinha que sair de casa para trabalhar, saía com medo por não saber se na volta teria transporte.
Prejuízo
No
sábado e domingo, os ônibus continuaram sem circular pelas ruas. De
acordo com a SETURN (Sindicato das Empresas de Transporte Urbano do
RN), os atentados geraram o prejuízo de 4 milhões de reais. Nessa
contagem é incluído o gasto com os ônibus queimados e o total que
as empresas perderam ao encerrarem as viagens.
A situação também não foi boa para o comércio: os shoppings e centros comerciais ficaram vazios e houve queda nas vendas.
Rumores
Como
em qualquer evento de proporções grandes, ocorreram notícias
falsas. Entre os rumores estavam: um áudio ameaçando algumas
escolas (o adolescente que gravou foi detido), ataque ao supermercado
Extra e ao Hiper (houve sim um ataque, mas ao supermercado Nordestão
na Zona Norte da cidade), ataque ao Mc Donalds de uma rua principal
de Natal – Abel Cabral –, uma suposta carta do Sindicato do Crime
(a facção que estava coordenando os atos) e uma fuga do presídio
de Alcaçuz (na verdade, descobriram um túnel; fuga aconteceu no CDP
- Centro de Detenção Provisória da Ribeira).
Houve
também mal entendidos, como uma caminhonete pegando fogo na Rua Tororós, no Bairro de Lagoa Nova, Zona Sul de
Natal, mas na verdade era um problema no motor.
Reforço
Tudo caminhava do jeito que os
presos imaginavam: atacando a população, o governo deixaria de
instalar os bloqueadores. O que não aconteceu.
O
Governador, em suas redes sociais, postou no dia 31 de julho:
“Solicitei
apoio das tropas do Exército para se somarem às nossas destemidas
polícias no trabalho para garantir a segurança da população do
Rio Grande do Norte. Desde ontem tenho mantido contato com o ministro
da Casa Civil, Eliseu Padilha, com o ministro da Justiça, Alexandre
de Moraes, com o ministro da Defesa, Raul Jungman e com a direção
nacional da Polícia Federal. Aqui, todas as forças de segurança
permanecem em total atenção para retomarmos a normalidade. Estou no
aguardo da liberação das tropas pela presidência da República.”
E
no dia 03 de agosto, quando os militares chegaram:
|
"Estive agora no 16° Batalhão de Infantaria Motorizada dando as boas vindas a parte das tropas do exército que já está no nosso Estado, no momento se dedica ao estudo das estratégias e amanhã vai para as ruas no reforço à segurança pública. Sejam bem vindos!" |
Na
quinta (04), os militares já estavam agindo nas principais ruas da
cidade. A população ficou mais tranquila, mas mesmo assim se
questionou a participação dos militares do RN. É importante
esclarecer aqui essa dúvida: os militares do RN estão sim agindo na
Operação Militar, porém, como medida de precaução somente
aqueles que possuem certo grau de experiência em Garantia da Lei da
Ordem (GLO) foram selecionados. Além disso, as tropas que chegaram
são especializadas em situações como essa que ocorreu no Estado e
serão essenciais até que as instalações dos bloqueadores em todos
os presídios estejam concluídas.
Mais
de 1.300 operações já foram realizadas com as Forças Armadas na
região metropolitana e em Natal. De acordo com o jornal Tribuna do
Norte, são 880 operações de patrulhamento motorizado, 362 pontos
estáticos, 11 postos de controle e bloqueio de vias urbanas, 66
ações de reconhecimento, 16 operações costeiras e fluviais e
controle de áreas estratégicas. E segundo a mesma fonte, 110
pessoas suspeitas de participação nos ataques foram presas na
primeira semana de atuação.
Repercussão
A
notícia dos ataques começou a sair em blogs, sites e jornais do Rio
Grande do Norte primeiro. O NOVO Jornal fez a atualização dos
ataques dia a dia em seu site e pelo WhatsApp (eles utilizam o aplicativo para manter os assinantes atualizados, no período dos ataques não foi diferente, eles mandavam notas para deixar quem assina o jornal informado sobre o que estava acontecendo). Os jornais de circulação nacional publicaram em seus
sites matérias a respeito dos atos. No entanto, na TV aberta não
ocorreu maior cobertura quanto ao caso.
No
Twitter, muita gente não estava sabendo o que estava acontecendo no
RN e lançaram a hashtag #PrayForNatal, que atingiu 1° lugar nos
Trend Topics brasileiros.
Neste
momento
Depois
de alguns dias de paz com a transferência de 21 mandantes dos
ataques no RN para as penitenciárias federais de Rondônia, Mato
Grosso do Sul e Paraná; nesta segunda-feira (15), um carro e um
caminhão foram incendiados no bairro de Felipe Camarão e Bom
Pastor.
Robinson
Faria, na sexta-feira (12), havia feito pedido para a
permanência do Exército por mais um mês já que as tropas estavam
previstas de deixarem o RN na terça-feira (16). Michel Temer, então, no
dia 15, autorizou a continuação por mais 8 dias, ou seja, até o
dia 24 (próxima quarta-feira); havendo possibilidade de prorrogação.
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