Por Lais Di Lauro
Todos
têm consciência de que o mundo é um local propício a catástrofes
sejam estas tendo motivações humanas ou naturais. Enquanto um lado
do mundo sedia o maior evento esportivo do planeta, o outro sedia uma
realidade triste e devastadora.
Em
um momento onde todos os olhares eram voltados para atletas
competindo nas mais diversas modalidades esportivas, uma notícia
choca o mundo: imagens de Omram Daqneesh, um menino sírio de cinco
anos de idade, em completo estado de choque e pânico após um ataque
na cidade de Aleppo na última quarta-feira (17). A imagem gerou
grande repercussão e Omram tornou-se símbolo da barbárie causada
pela guerra. A criança estava toda suja de destroços, com
ferimentos pelo corpo e rosto ensanguentado.
Entretanto,
Omram não foi o primeiro, e, infelizmente, não será o último que
sofre direta ou indiretamente com as consequências devastadoras que
uma guerra causa. Todos os dias não somente na Síria, mas também
em outras nações, famílias inteiras são atingidas. Centenas de
pessoas são mortas, destruídas. Enquanto isso, o mundo se cala.
E
é assim uma boa parte do tempo. Silenciamos as guerras, fechamos os
olhos para a dor de milhares de pessoas que vivem diariamente
aterrorizadas pelo medo. Crianças, jovens, mulheres, homens,
idosos... Populações inteiras vivendo sob pavor.
É
preciso, de vez em quando, surgir uma imagem icônica para avivar em
nossa memória a desumanidade do mundo. Por mais distante que esteja
da nossa realidade, não há quem veja uma criança ferida,
paralisada pelo pânico e pelo medo, e não sinta, pelo menos,
indignação. Parece que às vezes esquecemos que há uma parcela do
mundo em guerra. Pessoas que convivem diariamente com a aflição de
não estar seguras em sua própria casa.
Há
alguns meses atrás a imagem do Alyan Kurd – outra criança síria
que teve seu corpo encontrado em uma praia da Turquia após
afogamento no final de 2015 - foi altamente disseminada por veículos
de comunicação do mundo inteiro. Por alguns dias, milhares de
pessoas se comoveram com os refugiados sírios e com a situação que
o país e o seu povo enfrentam. Porém, logo depois, ninguém mais
falava ou sequer lembrava o ocorrido. Parece que, de alguma forma, a
empatia tem prazo de validade.
Hoje,
a imagem desumana da dor está viva em nossas mentes. O sentimento de
compaixão está aflorado. Em minha memória, a imagem do Omram, do
Alyan e de tantas outras crianças e pessoas não se apagará tão
cedo. O meu sentimento é de revolta, de dor e de luto.
Organizações
mundiais, autoridades das grandes potências globais e outros
“grandes” do mundo parecem ter memória curta. Nada é feito a
respeito. Todos emudecem. É claro que não sou ingênua de pensar
que não há por trás de todo esse silêncio questões políticas,
econômicas e até mesmo religiosas. Porém, se toda crueldade
causada pela guerra fosse a outros países, em outro hemisfério do
mundo, será mesmo que haveria tanta omissão e desprezo?
Quantos
mais precisarão ser afetados e mortos até que uma medida seja
tomada? Quantos novos “símbolos da desumanidade” precisaram
emergir para que uma providência seja tomada?
O
valor de uma vida é o mesmo em qualquer lugar do mundo, seja em qual
hemisfério for. Não importa nacionalidade, dinheiro, religião. Uma
vida é uma vida.
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