O
evento em termos gerais foi um completo sucesso — não ocorreram erros ou
complicações técnicas ou de segurança. E ainda que tenha sido aplaudido por boa
parte dos brasileiros, algumas respostas não foram tão positivas assim. Parte
da população voltou a criticar a crise política e social do Brasil e do Rio de
Janeiro, alegando coisas como atos de “pão e circo”. Internacionalmente, as
reações também foram diversas. O jornal britânico The Guardian publicou, em
forma de crítica, que a “Cerimônia de
abertura do Rio-2016 é um misto de patriotismo aparado e clima de preocupação. Com alguma ajuda
da supermodelo Gisele Bündchen, uma equipe de refugiados, milhares de mudas, a
rapper de 12 anos MC Soffia e uma injeção de patriotismo, organizadores esperam
que a cerimônia de abertura marque a ruptura definitiva de uma construção conturbada”. Já o jornal espanhol Marca aprovou: “Um espetáculo maravilhoso de luzes, imagens e som, que como novidade
incluiu uma mensagem altamente simbólica que poderia ser resumida em um ‘salvem
o planeta’, slogan que se torna mais importante no país que abriga a saqueada
floresta amazônica”. Outros, como o New York Times, se posicionaram num
meio-termo: “Se havia uma nação com a
necessidade de um espetáculo de elevação neste momento, mesmo que sob a forma
de um exercício de relações públicas, esta nação é o Brasil”.
A crise política
e econômica
O Brasil vem sofrendo nos
últimos dois anos as consequências de uma crise econômica, filha da crise
imobiliária americana de 2008, que causou não só um descarrilamento da inflação
e desvalorização do real como a maior reviravolta política da última década.
Com a
inflação em alta e o preço do dólar oscilando constantemente, a importação e a
exportação do Brasil, principalmente de petróleo e commodities, sofreu um
abalado forte. Estamos pagando mais caro pela compra e recebendo menos pela
venda dos nossos produtos. Em janeiro de 2016, o dólar atingiu a maior cotação
da história, saindo por R$ 4,16 reais.
Pessoas perderam o emprego e a economia do país desceu ladeira abaixo.
As medidas tomadas pelo governo não tiveram resultado além de reclamações por
uma boa parte da população brasileira.
Somada à
evolução da Operação Lava-Jato pela Polícia Federal, a crise econômica se
tornou política, acarretando protestos contra e a favor do antigo governo em
poder e que, ao final, levou à saída da presidente Dilma Rousseff através de um
processo de impeachment. Desde a tomada de poder do presidente interino, Michel
Temer, as relações sociopolíticas do Brasil se tornaram incertas. Há quem não
apoie as medidas do atual governante, há aqueles que defendem a saída
definitiva de Dilma e há aqueles que queiram novas eleições. Numa pesquisa do
Ibope, em abril desse ano, antes da saída de Rousseff, 62% dos entrevistados
preferiam a saída de ambos políticos e novas eleições para presidente.
Dentro do
caos brasileiro, o Rio de Janeiro, sede das Olimpíadas, entrou em estado de
calamidade pública. Há meses que um dos mais importantes estados do país vem
lidando com um descontrole do dinheiro público. Após a ajuda do Estado ser
embargada pelo não pagamento de uma dívida de mais ou menos US$ 8 milhões à Agência de Francesa de Desenvolvimento, o governador Francisco Dornelles
decretou calamidade diante da falta de recursos para lidar com as finalizações
das instalações olímpicas.
O Decreto de calamidade pública é um pedido de
ajuda nacional diante de alguma catástrofe natural ou material sofrida por
determinado estado ou cidade da federação e que não pode ser resolvida pelo
governo estadual. A situação engloba os diversos setores da sociedade:
econômico, social, sanitário, etc. A deficiência da economia carioca afeta a
sociedade como um todo, interferindo na qualidade de vida, de saúda e de
educação da população. Após receber ajuda nacional para o término das obras
olímpicas, o governo estadual do Rio se vê agora na missão de corrigir a crise
socioeconômica na qual sua população vive.
Os
questionamentos sobre a segurança
Julho foi
um mês caótico para todo o mundo. Com diversos ataques terroristas — o principal deles
em Nice, França, durante a comemoração do Dia da Bastilha, em 14 de julho, por um
tunisiano naturalizado francês chamado Mohammed Bouhel, que atropelou dezenas
de pessoas, matando 85 — o tema da
segurança perante a situação do Estado Islâmico se intensificou nas mídias. Com
pouco tempo para as Olimpíadas, o principal foco da nação era o que seria feito
para impedir algum tipo de atentado no Brasil e às delegações.
A
quinze dias dos jogos, 21 de julho, uma operação policial feita em sete estados
da federação prendeu dez supostos terroristas. O Ministro da Justiça, Alexandre
Moraes, garantiu que não houve contato direto com o grupo extremista Estado
Islâmico e que não passavam de amadores. Para manter a proficiência, a PM e o
Exército simularam ataques terroristas e garantiram que as forças de segurança
do Brasil estavam preparadas para qualquer ocorrência.
Lidar com
uma possível ameaça terrorista não é a única coisa que os policiais e o
exército brasileiro terão de enfrentar durante o mês dos Jogos Olímpicos. A
falta de segurança do próprio estado do Rio chama atenção. Com uma quantidade
alarmante de assaltos na capital, a preocupação com o bem-estar dos visitantes
e dos moradores deverá ser redobrada. Com 11 dias para a abertura já tivemos
uma notícia ruim — o atleta neozelandês
de jiu-jitsu, Jay Lee, denunciou um sequestro por parte de policiais na capital
olímpica. Segundo Lee, ele foi forçado a retirar dinheiro de um caixa
eletrônico para que não fosse preso.
Deve
ser levado em consideração também os outros estados que sediarão os jogos de
futebol. Além do Rio de Janeiro, as cidades de Belo Horizonte, Brasília,
Manaus, Salvador e São Paulo receberão as seleções olímpicas para os jogos. Um
torcedor que compareceu ao primeiro jogo do Brasil, no dia 4 de agosto no
Estádio Mané Garrincha em Brasília, e que preferiu não ser identificado, deu
uma entrevista ao GRUPERT afirmando que “Eles dizem que não podem entrar com
bolsas no estádio, mas tem galera que entra com bolsa muito grande e tem galera
com bolsa pequenininha que é barrado”.
O que
esperar do Brasil no esporte
A delegação da casa está trazendo em torno de 465 atletas para as
competições, participando praticamente de todas as modalidades oferecidas.
Dentre eles temos nomes conhecidos do esporte brasileiro como Marta e Cristiane,
do futebol feminino, Neymar, do futebol masculino, Daniele e Digo Hypólito e Jade
Barbosa, da ginástica artística, e Rafaela Silva, do judô, que foi
desclassificada nas Olimpíadas de 2012 em Londres.
Expectativas
crescem diante não somente das seleções de futebol, como também das seleções de
vôlei. A seleção feminina, comandada pela capitã Fabiana Claudino e treinada
por José Roberto Guimarães, vem com toda a força após conquistar seu 11° título
do Grand Prix de Voleibol em 2016, na cidade de Bangcoc, Tailândia. A masculina
também chega às Olimpíadas com grandes expectativas. O time ficou em segundo
lugar da Liga Mundial de Voleibol desse ano e promete vir com tudo para
garantir seu ouro olímpico.
Na natação, apesar de não
termos nosso recordista mundial e campeão olímpico, César Cielo, teremos alguns
nomes conhecidos como Thiago Pereira, competindo pelos 200 metros medley.
O futebol, um dos esportes
favoritos do povo brasileiro, está sob os olhares atenciosos e cautelosos do
povo desde que seu rendimento vem caindo nos últimos anos. A seleção olímpica
que vai disputar os jogos é a sub-23, que conta com três jogadores mais velhos,
Neymar, Fernando Prass e Douglas Costa. Depois da saída traumática da Copa do
Mundo e da eliminação da Copa América, os torcedores mantêm as expectativas
baixas. O primeiro jogo disputado pela seleção, no dia 4 de Agosto, já
desapontou os espectadores — o time do Brasil empatou de zero a zero com o time
da África do Sul.
O Comitê Olímpico espera
que o Brasil alcance ao menos uma posição entre os dez primeiros colocados no
quadro geral de medalhas. A possibilidade é válida, mas os atletas precisarão
se esforçar para enfrentar potências esportivas como Estados Unidos, China e
Reino Unido. Nos Jogos passados, o país alcançou a 17ª posição. É claro que a
torcida é essencial. Dar apoio aos atletas brasileiros faz parte do espírito
olímpico — assim como respeitar os atletas das outras delegações — e curtir as
histórias de superação, as lágrimas e as comemorações junto com eles engloba
tudo o que o evento mais prega.
Esses jogos serão mais uma
provação para a sociedade brasileira. Eles provarão, dentre altos e baixos, que
o país pode sim promover um evento de
grande porte, mesmo que não seja o ideal no meio de uma crise sociopolítica
como a que vivemos. Já está feito — o que nos resta agora é dar apoio e torcer
pelos nossos representantes e tentar tirar os melhores frutos possíveis do
legado que as Olimpíadas vieram nos deixar, independentemente do que aconteça.
Nenhum comentário