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Motores do Desenvolvimento no Rio Grande do Norte em três atos [ATO I]

Por Augusto Ranier e Yuri Gomes


Flávio Rocha apresentando o Movimento Brasil 200

Na manhã da última segunda-feira, dia 05/03, realizou-se em Natal, no hotel Holliday Inn, o Seminário Motores do Desenvolvimento do RN - iniciativa do jornal Tribuna do Norte juntamente com sindicatos patronais (FIERN, Fecomércio, etc). O evento teve como premissa a discussão sobre a situação das contas públicas brasileiras, a agenda de reformas em curso e a retomada do crescimento do país. Para tanto, especialistas e empresários participaram do debate. Neste ano, os dois palestrantes foram o Presidente do Grupo Guararapes, Flávio Rocha, e o Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. 



ATO I: FLÁVIO ROCHA 



Uma única mecha de cabelo rebelde, logo no centro, interrompia a rigidez do seu penteado. Suas feições germânicas, e seu evidente sorriso, confundiam o pensamento de qualquer um que tentara adivinhar sua idade. Número que apenas a branquidão do seu cabelo e sua biografia indicava. O nome é Haroldo P. Borges, escritor, ex-juiz trabalhista, hoje empresário do ramo de postos. 

Inicialmente curioso por saber o motivo que um evento destinado a empresários e de nome tão sisudo atrairia dois jovens que recentemente chegaram à maioridade; sua expressão abriu-se rapidamente em gracejo por descobrir que seria ele o primeiro entrevistado de dois aprendizes de jornalista. Tratou de inflar o peito e de rompante, com notória empolgação, aproveitou a chance para emitir suas várias opiniões sobre a conjuntura atual. Quando enfim esgotada a linha com que puxava seu raciocínio, olhou prontamente para o relógio, a marcar 9h 30. A palestra estava atrasada além da sua tolerância. 
Flávio Rocha falando com a imprensa

“Querem mudar o Brasil, eles, mas ainda nem chegaram. O cronograma diz que devia começar às 9h”, comentou. 

Minutos após ter posto um ponto final na sua fala, viu uma mulher subir o palco – que nesse dia fora reservado apenas para homens – e anunciar o atraso no voo do senhor ministro Meirelles. Os discursos, no entanto, começariam logo em seguida.

E foi então que subiu ao palco o recifense, que estudou no Rio, mas denomina-se potiguar. Após muito tempo longe da política (fora deputado federal duas vezes), ainda parecia estar se reacostumando com a plateia. Nesse tempo, atuou como presidente da terceira maior empresa de moda do brasileira, a Lojas Riachuelo. Além disso, é um dos maiores acionistas do Grupo Guararapes, que detém controle, entre outros ativos, do Shopping Midway Mall e da rede de confecção que fornece a maior parte das roupas vendidas da Riachuelo. 

Hoje, possível Pré-Candidato a Presidente da República, nasceu em um leito que hoje é estimado em R$ 1,3 bilhão. Usando seu prestígio como empresário, foi um dos primeiros críticos do Governo Dilma a propor um Impeachment. Em seu discurso, que durou cerca de uma hora, repetiu parte das críticas feitas quando em voga o processo. Antipático, sempre, ao projeto político socialista, é contundente: “Ideologia nefasta que precisamos banir”. Para ele, a crise – que retornou à miséria pelo menos 2,5 milhões de brasileiros – é um momento oportuno de mudar a relação do indivíduo com o Estado a fim de garantir uma maior “liberdade de iniciativa”. 

Referindo-se ao Bolsa Família, avalia, “torna o eleitor dependente da caridade estatal”, não passando de um súdito eternamente dependente de quem está no poder. O Governo gastou, ano passado, 0,4% do PIB para atender 13,9 milhões de famílias. Percentual menor, por exemplo, ao que os Estados Unidos aplica em programas semelhantes (2%). 

Apesar do discurso, entre 2012-2016 o grupo Guararapes, da família Rocha, recebeu descontos de R$ 255,5 milhões no ICMS durante a gestão Rogério Marinho (PSDB) na Secretária Estadual de Desenvolvimento Econômico, com o objetivo de interiorizar a produção têxtil, gerando empregos em pequenas oficinas de costura, chamadas de facções. 

O programa, chamado de Pró-Sertão, foi alvo de polêmica devido as acusações de piora nas condições de trabalho nessas facções. Com costureiras pressionadas a cumprir a meta diária de produção, muitas vezes trabalham além do turno para evitar punições. Em 2017, o MPT (Ministério Público do Trabalho) abriu um processo trabalhista contra o Grupo Guararapes. Cobrando R$ 37 milhões, o Ministério sofreu o antagonismo de milhares de trabalhadores que viram suas posições em xeque, após a empresa ameaçar deixar o estado. Embora tendo registrado, no trimestre que foi feita a acusação, lucro de R$ 327 milhões, o que paga quase dez vezes a multa.

“Foi o dia mais triste da minha vida: um comboio policial, sirenes ligadas, para oprimir as pessoas que têm o sonho de dar emprego... pensei em desistir”, disse. 

Seu sonho, no entanto, segue vivo. Comenta, para o aplauso geral, “A Europa será invadida pelas roupas feitas por as mãos das meninas da Guararapes”. Em seguida, projeta, “Nos tornaremos a Galícia potiguar”, se referindo a sede da rede ZARA, também famosa pelo seu histórico conturbado em relação às condições de trabalho em suas fábricas subordinadas. 

Sendo de elogio ou de provocação, tanto seus admiradores quanto seus críticos concordam que o “sonho” está próximo de se realizar.

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