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Motores do Desenvolvimento no Rio Grande do Norte em três atos [ATO III]

Por Augusto Ranier e Yuri Gomes 


Henrique Meirelles justifica as políticas econômicas do Governo

ATO III: O HOMEM CÉLEBRE 

Henrique Meirelles é um personagem, no mínimo, tacanho. Seu trejeito desengonçado e maneira monótona de falar contribuem para afastar a primeira onda de curiosos com o Ministro; a aridez e tecnicidade do seu ofício, a segunda. No entanto, o goiano natural de Anápolis se impõe como uma das figuras centrais na conjuntura política brasileira. Com um protagonismo no Governo às vezes superior ao seu chefe, Michel Temer.

“Se Temer cai, Meirelles segue firme”, sussurram os interiores do Planalto. 

Prestígio ele conta entre a classe empresarial. Mesmo após cerca de uma hora e meia de atraso, uma salva de palmas foi a resposta a sua entrada ligeira no salão. Frustrando, infelizmente, um paredão de repórteres que o esperavam na entrada principal. 

Acompanhado por cinco seguranças, o ministro subiu ao palco sem vacilo. Tomou pouco tempo para ajustar o microfone, as transparências e o terno. E assumiu o lugar no púlpito quando foi devidamente apresentado, para mais uma salva de palmas:

“Foi presidente e principal executivo do antigo BankBoston. Deixou a instituição financeira norte-americana para tornar-se presidente do Banco Central do Brasil, cargo que permaneceu durante os oito anos do governo Lula.”

Seu nome assinala parte considerável das notas de real atualmente em circulação. E o seu pensamento se inscreve, talvez de forma indelével, na história econômica dos últimos vinte anos. 

Foi com sua ajuda, por exemplo, que o ex-presidente Lula manteve uma política monetária rígida e ortodoxa - não muito diferente da atual, diz o Ministro. A qual serviu para acalmar parte do mercado ainda relutante com o metalúrgico. 

Apesar da média de crescimento do PIB ser 4%, Meirelles se mostra crítico a alguns aspectos das gestões anteriores. Principalmente a partir da Nova Matriz Econômica apresentada por Dilma Roussef. 

Na sua visão, o Superávit Primário recorrente dos anos Lula (Receitas menos Despesas do Governo, excetuando os gastos com Juros da Dívida) não significou a resolução do problema fiscal estrutural. Isto é, alta das despesas públicas foi mascarada pela também alta arrecadação, esta como resultado direto do forte ciclo de demanda das commodities brasileiras, como minério de ferro, soja e barris de petróleo.

O resultado disso, comenta, foi um mecanismo insustentável que produzia contas que fechavam a margens cada vez mais curtas. 

Então, a partir de 2011 houve uma agudização das despesas públicas. Somada a diminuição da arrecadação e da falta confiança com a política macroeconômica, configurou-se a mais profunda recessão da história brasileira.

"Tivemos a maior recessão do país. Vou ter que recorrer à história: na grande crise de 1929 o PIB do Brasil caiu 5,3% entre 1929, 30 e 31. Entre o final de 2014, durante 2015 e 2016 o ano caiu 7,3 %, mais do que a grande crise dos anos 29. Impactou muito e nós vamos demorar muito tempo e vivendo com isso para tirar o Brasil disso".

Para ele, qualquer ciclo de expansão da economia com esse cenário calamitoso das contas públicas está fadado à instabilidade. Apenas com a previsibilidade que viria com a reestruturação das contas públicas, o crescimento se daria continuamente. 

Como medida para controlar as despesas, propôs, no início do seu trabalho como Ministro da Fazenda, o polêmico Teto de Gastos. Justifica: 

“Foi estabelecido um teto de gastos, isto é, o governo propôs ao Congresso Nacional que no Brasil as despesas só podem crescer igual à inflação do ano anterior. Portanto não tem crescimento acima da inflação, o que é importantíssimo porque o país como um todo vai crescendo e as despesas não. [...] em 2016 pegamos o Estado gastando cerca de 20% do PIB. Se não fizéssemos nada, iria para 25%; com o Teto de gastos, vai para 15%”.

A aprovação da PEC do Teto no final de 2016, no entanto, não é suficiente para garantir saúde às finanças dos próximos anos, reflete. Há a necessidade de uma realocação do dinheiro de forma a se investir mais no que é produtivo. 

Como evidenciado pela sua impopularidade, essa reformulação passa por mexer na sua maior despesa, a Previdência. 

“O gasto hoje corresponde à metade do orçamento. Nos próximos anos será 60%, 70%, 80% até o Brasil quebrar”.

Contrariando o Ministro, a repercussão negativa do tema entre a sociedade tem imposto barreiras ao seu projeto mais ambicioso. Além disso, com a intervenção federal no Rio de Janeiro, a aprovação fica adiada por pelo menos um semestre. Mesmo assim, se sente orgulhoso dos resultados já conquistados. 

“Gostaria de mencionar também que é um momento muito importante, onde de fato o país começa a retomar a confiança de que pode crescer e produzir. No ano de 2017, o investimento em bens de capital cresceu 12,6% e o consumo de bens duráveis, 20,6%. Isso é um crescimento muito forte. Para o Brasil, como um todo, a recessão já faz parte do passado”. 

E adiciona, para novos aplausos. 

“No Rio Grande do Norte, as vendas no varejo fecharam o ano 5% acima do final do ano de 2016. O setor de serviços acumula crescimento de 9% desde maio de 2016. Os dois setores representam 70% da economia do estado. Isso indica que o estado do RN está crescendo e pode crescer um pouco mais acima da média nacional".

A população custa a sentir a melhora na economia. A baixa inflação não foi notada nos produtos básicos, como a gasolina. E a geração de empregos, costumeiramente retardatária, ainda não atingiu números expressivos. 

Ainda assim, é a principal bandeira da gestão Temer, que espera contar com seus dividendos eleitorais para cacifar um candidato ao Planalto em 2018. Quiçá o próprio Meirelles. Ele segue negando. 

CORTINA

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