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Página do Instagram gera comoção ao contar histórias invisíveis

Com quase 18 mil seguidores, o perfil "RN Invisível" conquistou a admiração dos potiguares ao contar as histórias de vida por trás de pessoas marginalizadas pela sociedade

Por Marco Veppo e Francisca Pires

Página oficial do RN Invisível no Instagram.
“(...) Já tem um ano que venho todo final de semana pra cá, pedir dinheiro pra comprar a nossa comida da semana”, diz Ana Lídia, que se encontra em situação de rua em São José do Mipibu. A história dela e de outras pessoas que moram nas ruas estão sendo contadas no Instagram por um perfil chamado RN Invisível. Marcel Rodriguez, idealizador do projeto, arrecada doações e voluntários para ajudar a suprir as necessidades destas pessoas. Em entrevista, ele nos conta os detalhes da história da página.

Há quatro anos, Marcel participa de um projeto chamado Sopão, que aos sábados leva suprimentos - comida, roupa e material higiênico - aos moradores de rua e que, ao longo do caminho, escuta várias histórias. No entanto, sempre houve uma inquietação: “Ao entregar um copo de sopa, nós matávamos a fome daquelas pessoas naquele momento, mas como elas ficam depois que vamos embora? ”. Motivado pelo propósito de ajudar essas pessoas não só uma vez, mas sempre, resolveu pesquisar projetos que dessem maior suporte a pessoas necessitadas e encontrou alguns que contavam histórias de pessoas em situação de rua, porém, esses não davam nenhum tipo de auxílio. 

Assim, para unir o útil ao agradável, criou há pouco mais de um mês a página RN Invisível, contando histórias e, simultaneamente, dando amparo aos personagens delas. Agora, toda semana, nas tardes de terças e quintas, ele sai de casa na missão de encontrar histórias. São documentadas 3 ou 4 delas em um dia, às vezes até mais. As abordagens por enquanto estão ocorrendo apenas nas ruas, mas Marcel revelou planos de começar a abordar pessoas dentro de comunidades carentes. 

Francisco de Assis, a ultima história postada.
Cada narrativa é singular e revela experiências muito impactantes. Marcel diz que algumas das histórias ele precisou ir em busca, mas outras já conhecia, por ter participado do Sopão: “Eu costumava ouvir um pedacinho de cada história que era contada sem pretensão por eles, muitas vezes era perceptível o quanto desabafar era importante. Eu notava algo preso dentro deles que parecia se libertar toda vez que surgia alguém para quem contar, isso porque, no geral, essas pessoas nunca são ouvidas, nem mesmo pelos seus companheiros de rua. Então, eu pensei que do mesmo jeito que eu me interessava por essas histórias, outras pessoas podiam se interessar também. O mundo precisava entender o porquê de eles terem ido parar ali”. 

Ao ser questionado sobre como é feita a abordagem dos entrevistados, ele explica que existe muita relutância por parte deles para contar suas histórias. “Eu puxo assunto, explico o projeto e pergunto se eles querem me contar as histórias, e que, através delas, eles podem receber ajuda. Quase todos aceitam e resumem as suas vidas para mim”, relata.

O diferencial do projeto é que, por ter tido uma ampla divulgação pelos usuários do aplicativo, foi possível arrecadar muitos suprimentos para a doação. “O RN Invisível está ajudando não só uma vez, mas sempre que possível. Para ocorrer a entrega das doações é feito um cadastro de cada um deles e, geralmente leva quatro dias para a arrecadação dos mantimentos. Por enquanto, eu acho, é possível contribuir com umas duas ou três (doações) para a mesma pessoa”. 

Ana Lídia recebendo as doações.
Em meio a tantas histórias emocionantes, perguntamos ao Marcel se ele conseguiria destacar uma que mais tenha chamado sua atenção: “Entre todas elas, a história que mais me emocionou foi a do Francisco de Assis ele tem trinta anos e foi morar na rua aos doze, isso porque o pai dele o colocou lá. Ele foi expulso de casa. Entende a gravidade? Ele não teve o que fazer. É assustador! Mas, cada história dessa mudou um pouco da minha vida. É incrível porque cada história me faz refletir toda vez que estou escutando e depois escrevendo. Às vezes o maior sonho da pessoa é ter uma cama, é chegar em casa e tomar um banho, comer, e assistir televisão. Esse tipo de choque de realidade muda a gente”.

O personagem citado anteriormente, Francisco, ainda não recebeu doações. Isso porque sua história compõe o post mais recente da página - que se encontra aberta para as arrecadações. Já a Ana Lídia, personagem do início dessa matéria, conseguiu mantimentos graças aos voluntários do projeto, ao Marcel e também aos usuários que entraram em contato com a página via direct (o chat do instagram) ou pelo e-mail. Se você quer fazer parte do projeto é só pesquisar por @RNINVISIVEL no aplicativo e contribuir para mudar a história de pessoas como a Ana Lídia e o Francisco de Assis.

Um comentário:

  1. Que esse trabalho cresça cada vez mais. É de extrema importância que tenhamos a oportunidade de ler um pouco sobre eles, e com isso,também ajudar nesse movimento.

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