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A Política por Trás da Bola: Grupo B

Uma série de perfis nem tão futebolísticos dos 32 países da Copa do Mundo da Rússia 

Por Vinícius Veloso 

Craque Eusébio, de Portugal, com a bola. O aiatolá Ali Khamenei, do Irã, e Luis VI, da Espanha, logo atrás. Edição: Paulo Prado/Caderno de Pauta

A Copa do Mundo chega para mais uma edição. Agora na Rússia, o grupo B do Mundial conta com duas forças da Europa (Portugal e Espanha), Ásia (Irã) e África (Marrocos). Favoritos para avançar às oitavas de final da competição, os dois países ibéricos precisam encarar o futebol marroquino e iraniano, considerados de pouca tradição, no entanto, zebra sempre é algo presente na Copa, então, todo cuidado é pouco. Fora das quatro linhas, o clima político é bem diferente entre as nações, desde a presença de reis a figura de aiatolás, cada país carrega sua particularidade quando o assunto é a sua configuração política.

Diante disso, confira as características políticas e futebolísticas do Grupo B da Copa da Rússia.

Portugal 

Pioneiro durante o período das Grandes Navegações, Portugal possui posição privilegiada no velho continente. Fazendo fronteira com a Espanha e tendo a costa banhada pelo Oceano Atlântico, o país de quase 11 milhões de habitantes é um dos mais antigos da Europa. A economia voltada à agropecuária, indústria têxtil, turismo e mineração é um dos pilares de desenvolvimento econômico do país. De população extremamente cristã, Portugal é visto como um dos bons lugares para se viver devido o bom IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e a referência em educação, a exemplo das Universidades. 

Apesar de ter vivido momentos temerosos durante o século XX por causa do Salazarismo (1932-1976), imposto por António Salazar e continuado com Marcelo Caetano, o regime perdeu espaço para a Revolução dos Cravos - movimento democrático e popular que derrubou o autoritarismo português. Desde então, Portugal vigora como República Semipresidencialista, na qual há o Chefe de Estado, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa, e o Chefe de Governo, o primeiro-ministro António Costa. Isso significa que o regime reúne elementos do presidencialismo e do parlamentarismo. O presidente representa o país no exterior e comanda as Forças Armadas, além de nomear membros para o alto escalão do Governo e ministros para setores específicos. O primeiro-ministro tem um protagonismo mais parlamentar, verifica o cumprimento das leis e acompanha o resultados cotidianos de Portugal. Neste contexto, o Poder Executivo, Legislativo e Judiciário também constroem a política portuguesa, moldando a discussão de projetos, elaboração de leis e execuções das penas. Homens e mulheres votam em Portugal por meio de eleições diretas mediante sufrágio universal, ou seja, o povo escolhe seus representantes. 

Bem como a Espanha, Portugal também passou por dificuldades econômicas na crise global de 2008. O alto déficit público, desemprego em níveis alarmantes, subida de preços de produtos e endividamentos externos devido a empréstimos no FMI e Banco Central, fez com que Portugal entrasse no PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) - termo inglês criado para esses conjunto de países que se encontravam em situação de vulnerabilidade econômica e déficit público. Por causa da grave crise, o país europeu teve que reformular estratégias para combater a alta inflação, que aos poucos foi sendo controlada. 

A equipe portuguesa participa de sua sétima Copa do Mundo (1966, 1986, 2002, 2006, 2010 e 2018). Seleção forte e de muita tradição, Portugal ainda conta com o talento de Cristiano Ronaldo, considerado cinco vezes o melhor jogador de futebol do mundo ao lado de Lionel Messi, que também carrega essa marca. Atual campeão da Eurocopa, os portugueses tentam conquistar o tão sonhado título da Copa do Mundo. E em duas ocasiões estiveram próximos do feito: a primeira em 1966, terminando em 3º lugar e, 40 anos depois, na Copa da Alemanha (2006), ficando em 4º lugar e perdendo por 3 a 1 justamente para os donos da casa. Mas para levantar a taça, a seleção precisa apagar o último desempenho feito em 2014, quando foi eliminada na 1ª fase da competição com uma vitória e um empate. Para isso, leva à Copa, além do craque Cristiano Ronaldo, outros conhecidos do mundo da bola, como Quaresma, João Moutinho e Pepe com o objetivo de faturar mais uma taça para a Seleção de “Quinas”. 

Espanha

Localizado na Península Ibérica, a Espanha possui população de aproximadamente 46 milhões de habitantes e tem como capital Madrid. Faz fronteira com Portugal, Andorra e França, sendo um dos países europeus mais próximos da África, devido a conexão do estreito de Gibraltar entre os dois continentes. A língua oficial é o espanhol, conhecido também como castelhano, mas em outras partes do país - Catalunha - o idioma é o catalão. Os principais setores econômicos são a agricultura, finanças (bancos), indústria e turismo. A moeda de circulação é o euro.

Depois de vivenciar uma Guerra Civil (1936-1939) e o franquismo do ditador Francisco Franco que durou 36 anos, o sistema político espanhol se sustenta em uma Monarquia Constitucional hereditária, com o rei Felipe VI e uma democracia parlamentar instaurada em 1978. De acordo com a Carta Magna espanhola, o Rei é o chefe de Estado e comandante supremo das Forças Armadas. Ele também está incumbido de nomear o Presidente do Governo espanhol, ministros e outros membros do alto escalão da Espanha. O contexto político é dividido em Poder Executivo, Legislativo e Judiciário. O primeiro é onde se encontra o Rei, presidente e demais representantes, o segundo, a Câmara dos Deputados e o Senado, por último, juízes e magistrados. O multipartidarismo se faz presente na Espanha, porém, boa parte dos políticos que ocupam as cadeiras do Parlamento e do Senado, são do PP (Partido Popular), PSOE (Partido Socialista dos Trabalhadores Espanhóis) e o Podemos. 

Recentemente, houve toda uma mobilização na Espanha devido ao pedido de separação da Catalunha. Os catalães reivindicam maior autonomia e o reconhecimento da República catalã. Nesse período de turbulência política, a Catalunha se declarou independente, entretanto, o governo espanhol, que até então era presidido por Mariano Rajoy, não reconhecia o estado catalão. Hoje, o presidente é Pedro Sánchez, que tomou posse depois de Rajoy ser destituído do poder. Seu maior desafio é estabelecer novos laços com a Catalunha. Além desse esforço de apaziguar as tensas relações políticas, o Governo espanhol tenta se recuperar desde 2008 da crise econômica que assolou vários países do mundo. As enormes dívidas, diminuição do PIB, desemprego e empréstimos ao Banco Central e FMI, atrelados a outros desequilíbrios financeiros, fez com que o país entrasse no grupo dos PIIGS - conjunto de países em vulnerabilidade econômica, citado anteriormente. 

A Espanha vai para sua 15ª edição de Copa do Mundo. Dessas edições venceu apenas uma vez, que foi em 2010, na África do Sul. A conquista veio contra a Holanda; em um jogo memorável, Andrés Iniesta, garantiu o título para a Fúria. No entanto, na Copa seguinte, a Espanha não conseguiu repetir a façanha do Mundial passado, logo na estreia foi goleada pela Holanda: 5x1. No jogo seguinte, perdeu para o Chile por 2 a 0 e só venceu a última partida: 3 a 0 contra a Austrália, mas não tinha mais chances de classificação. Quatro anos se passaram e o foco é levantar a segunda taça. Um fato curioso é que o Julen Lopetegui, até então técnico da seleção na Copa, foi demitido nesta quarta-feira (13), após ter sido nomeado como novo técnico do Real Madrid, o que desagradou membros da Federação Espanhola. Agora a Fúria será comandada pelo ex-jogador Fernando Hierro.

Marrocos 

O país do noroeste da África, com capital em Rabat, possui aproximadamente 32 milhões de habitantes e a língua oficial é a árabe. Boa parte da população é islâmica, cerca de 98%. A economia é voltada à agropecuária, mineração, turismo e indústria têxtil. Mas o que mais se destaca é o contexto político, dividido entre poder executivo, legislativo e monárquico.

O país vive uma política de parlamentarismo e monarquia ao mesmo tempo, sendo que o primeiro-ministro é escolhido para chefiar o Conselho de Governo que discute políticas públicas e setoriais com a Câmara dos Representantes (parlamentares) e traça questões envolvendo os direitos humanos, educação, segurança, saúde e projetos de leis. Além disso, o Conselho de Ministros, outro órgão importante do País, é presidido pelo Rei Mohammed VI (desde julho de 1999, cargo hereditário) e conta com diversos ministros das demais áreas de desenvolvimento do país, adotando medidas destinadas a estratégias militares, anistias e revisões da Constituição. Mesmo com essas duas esferas de poder, tudo acaba passando pelas mãos do monarca depois dos assuntos serem debatidos no Parlamento. O Parlamento é dividido em duas “casas”, a Câmara dos Representantes e a dos Conselheiros. Os parlamentares podem propor leis e votá-las, mas para serem aprovadas devem ter o parecer das duas Câmaras. O sistema é multipartidário, tendo partidos de centro, esquerda e direita. 

Após 20 anos longe da Copa do Mundo, a seleção marroquina volta a disputar novamente o Mundial. A equipe é uma das representantes do continente africano, juntamente com Senegal, Nigéria, Tunísia e Egito. O país vai para sua 5ª edição de Copa (1970, 1986, 1994, 1998 e 2018) que ainda conta com Espanha, Irã e Portugal. A melhor participação do Marrocos foi na Copa de 1986, quando liderou o grupo F (Inglaterra, Polônia e Portugal), com uma vitória e dois empates e chegou às oitavas de final, mas acabou derrotada pela Alemanha Ocidental por 1 a 0. 

Irã

O país asiático localizado no Oriente Médio, possui aproximadamente 80 milhões de habitantes. A língua oficial é a persa e tem como religião principal o Islamismo. Teerã é a capital do País que tem o Rial como moeda de maior utilização. A economia iraniana é voltada para a produção e exportação de petróleo, o que faz do Irã ser uma das potências na extração do recurso. Mas não é o único setor de interesse econômico, a indústria têxtil e a procura por especiarias, como temperos e frutas secas, a produção agrícola e pecuária também chama a atenção do público afora. No entanto, a República do Irã, sofre pelas condições climáticas e escassez de recursos hídricos, fazendo com que a água seja um fator de luta e sobrevivência. O país é visto como ameaça para alguns países, a exemplo dos Estados Unidos, devido ao seu programa nuclear e a questão petrolífera.

O sistema político se baseia em uma relação complexa que envolve Democracia moderna e Teocracia islâmica. O líder supremo do país é um aiatolá, que atualmente é Ali Khamenei, desde 1989. O aiatolá indica o Presidente do Poder Judiciário, nomeia ministros e membros para o Conselho dos Guardiães (órgão composto por seis teólogos e seis juristas), representantes das Forças Armadas e os responsáveis pelos serviços de comunicação do País (rádio e TV principalmente). Além disso, há eleições diretas, a população vota em um determinado candidato à presidência e o chefe máximo confirma ou não o pleito. 

Eleito o presidente, este passa a controlar o Poder Executivo, com objetivo de regir o que está contido na Constituição. Mas, seu poder é limitado pelo aiatolá e pelo Conselho dos Guardiães que controlam o Poder Legislativo (Parlamento). Nas eleições, homens e mulheres podem votar, porém, devem ser nascidos no País e ter idade mínima de 15 anos para realizar o ato. Os representantes escolhidos para os três poderes, ficam em um mandato de oito anos. 

O Irã participa pela quinta vez da Copa do Mundo (1978, 1998, 2006, 2014 e 2018) e busca, mais uma vez, conseguir a classificação inédita para às oitavas de final, já que nunca passou da 1ª fase. É considerada uma das melhores seleções da Ásia, mesmo não tendo feito uma boa campanha em 2014, quando terminou em último lugar no grupo F (Argentina, Bósnia e Nigéria) com apenas um empate. A melhor participação no Mundial foi em 1998, na França, quando derrotou os EUA por 2 a 1. Essa vitória, que foi a única até agora em Copas, teve um valor simbólico muito forte. Naquela ocasião, tensões diplomáticas entre os dois países se faziam presente extra-campo, devido a tomada da embaixada norte-americana em Teerã e a Revolução Islâmica instaurada pelo Xá Reza Pahlevi anos antes que culminou na política dos aiatolás. Em meio a esse passado turbulento, o Irã pretende mostrar um bom futebol na Rússia.

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