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A Política por Trás da Bola: Grupo D

Uma série de perfis nem tão futebolísticos dos 32 países da Copa do Mundo da Rússia 

Por Maria Clara Pimentel 

Na política e nos gramados, a Argentina de Macri tenta mostrar a sua força. Edição: Paulo Prado/Caderno de Pauta

O grupo D da Copa da Rússia está recheado de países cultural, econômica e politicamente distintos. Há a Argentina, passando por crise financeira desde o começo do ano, e, ao mesmo tempo, a Croácia, que é o último país a se tornar membro da União Europeia. Além disso, existe a Islândia, considerada o primeiro país em igualdade de gênero, concomitante à Nigéria, cujo próprio presidente clama que o lugar de sua esposa “é na cozinha”.

Confira agora fatos interessantes, características políticas e como chegam ao mundial de 2018 as seleções da Argentina, Islândia, Croácia e Nigéria.

Argentina

O tango, o futebol e a literatura são o que basicamente definem os nossos hermanos. E a Argentina - mesmo que não gostemos muito disso - tem muito a ver com o Brasil. Um clima diferente para cada região do país, a religião majoritariamente católica e o fato de ser um grande exportador de commodities justificam a comparação. Além disso, o país mais ao sul do continente americano, berço da personagem de tirinhas Mafalda, tem um sistema de governo muito parecido com o brasileiro, sendo uma democracia representativa e república presidencialista e constitucional. Os argentinos possuem grande apreço pela política, tanto é que é possível encontrar cervejas como a Evita (nome da primeira-dama do ex-presidente Perón), Montoneros (em homenagem a um grupo guerrilheiro dos anos 70) e Double K (tributo aos ex-presidentes Cristina e Néstor Kirchner).

O atual presidente argentino, Mauricio Macri, tem a maior impopularidade desde o começo do seu mandato - em dezembro de 2015 - com imagem negativa somando 62,7%, de acordo com pesquisa feita pelo Centro de Estudos de Opinião Pública (CEOP). O país atualmente passa pela pior seca dos últimos 40 anos, teve sua moeda perdendo 22 pontos de seu valor e as taxas de juros subiram em 40%. A medida de Macri para voltar a respirar - a concessão de ajuda financeira pelo Fundo Monetário Internacional - é reprovada por 77% da população. Os argentinos têm más lembranças dos auxílios que o FMI ofereceu nas últimas décadas, em especial no ano de 2001, que culminou na maior crise do país.

Com tradição em mundiais, a Argentina vem para a sua 17ª participação. A seleção que quase não se classificou para disputar a competição na Rússia - salva apenas pelo seu grande nome, Lionel Messi - é bicampeã no mundial. Além disso, os nossos vizinhos têm um certo vício no número "dois”, tendo ficado em segundo lugar dezenove vezes em torneios oficiais (continentais ou mundiais) - mais que qualquer outro país. Três desses vices foram em Copas do Mundo, inclusive a de 1990, quando ocorreu o caso da “água batizada” numa partida contra a seleção do Brasil. Em meio a disputa pelas oitavas-de-finais, o massagista da seleção argentina forneceu uma garrafa d’água com sonífero ao lateral brasileiro Branco, que passou mal durante o jogo. Afinal, os hermanos também sabem ser malandros.

Islândia

A Islândia é um país nórdico europeu situado no Atlântico Norte, possui um Índice de Desenvolvimento Humano altíssimo e uma expectativa de vida de 90 anos - proporcionando, assim, um dos melhores padrões de vida do planeta. O país tem como principal atividade econômica a pesca, responsável por grande parte das exportações - a agricultura, em contrapartida, é muito pouco desenvolvida, pelo fato de apenas 1% do território ser próprio para cultivo. A ilha, que não tem loja do McDonald’s e não tem exército, é o primeiro país do mundo a obrigar as empresas a propiciar igualdade salarial para homens e mulheres. O sistema de governo islandês, além disso, é uma república parlamentarista constitucional, e sua primeira-ministra, Katrín Jakobsdóttir, no cargo desde o ano passado, defende a expansão do sistema público de saúde islandês.

O país, com décadas de governos conservadores, adotou políticas neoliberais no começo do século XXI. Privatizou seu sistema bancário, adotou impostos mínimos sobre o capital e desregulamentou inteiramente as relações de trabalho. Sucedeu-se então a crise financeira de 2007/2008, na qual a Islândia foi um dos primeiros países a quebrar. O desemprego cresceu, as pessoas foram às ruas e o governo caiu. A instabilidade do país resultou na confecção de um referendo sobre a nova Constituição a ser adotada. Os bancos quebrados foram nacionalizados, as dívidas dos empreendedores foram renegociadas e a quebradeira em outros países europeus não conseguiu chegar à Islândia. O país se recuperou.

A Rússia este ano é a sede da primeira participação da Islândia na Copa do Mundo, e o país vê o seu jogo de estréia, hoje, 16/06, como a maior partida da história do seu futebol, de acordo com o técnico da seleção, Heimir Hallgrímsson. O país, que é o menor do mundo em população a se classificar para o mundial, levou um quinto da nação a comprar passagens para a Rússia - o sentimento de vitória já é sentido por só chegar lá. Há dois anos, a seleção islandesa que surpreendeu na França e alcançou as quartas de final da Eurocopa, hoje é considerada uma das 20 melhores seleções no ranking da Fifa. Os chamados “vikings” só pretendem continuar o trabalho duro e mostrar ao mundo seu crescimento e regularidade no futebol.

Croácia

O país que é uma das repúblicas mais desenvolvidas da ex-Iugoslávia, situada na Península dos Balcãs (no leste europeu), é impulsionado economicamente pelos setores da indústria e serviços - sendo o turismo a grande fonte de renda, graças, especialmente, às suas 1.135 ilhas. O sistema de governo é uma república parlamentar democrática, dividida, como o Brasil, em 3 poderes. Quem rege e representa o país, dentro e fora dele, são o chefe de governo (primeiro-ministro) e o chefe de Estado (presidente). Sendo um dos países com maior número de pontos turísticos declarados como patrimônios da humanidade pela UNESCO, as belas paisagens da Croácia podem ser observadas na série Game of Thrones, principalmente pelas ruas de Dubrovnik.

Algumas tentativas de política mais progressistas vêm se intensificando no país que já fora pró-fascista. Em setembro de 2014, uma lei concedeu algumas igualdades de direitos aos casais gays da Croácia - deixando de lado somente os direitos de obtenção do nome do cônjuge e de adoção de crianças. No ano passado, após um tribunal reconhecer a lei do aborto instituída em 1978 como inconstitucional, a Corte exigiu que o Parlamento mude a legislação até o próximo ano. Além disso, nos últimos meses, grupos antidireitos do país tentam impedir a assinatura croata na Convenção de Istambul, que luta e previne a violência sexista. A Croácia, que entrou na União Europeia em 2013 (depois de oito anos de espera), talvez esteja tentando se assemelhar aos seus novos companheiros de bloco. Aliás, a presidente Kolinda Grabar-Kitarović, em cargo desde 2015, se considera bastante aberta ao capital estrangeiro - com sorte, ela não se restrinja apenas à economia.

No ano de 98 começou a história da Croácia em Copas do Mundo. Na realidade, os croatas participaram outras vezes, mas como a FIFA e a UEFA só reconhecem a Sérvia como única sucessora da Iugoslávia, esses são os dados noticiados. De onde começou quase não mais parou: vai para a sua quinta participação no campeonato e, desde que começou, só não esteve presente na África do Sul. Abriu suas atuações na Copa com chave de ouro: ficou em terceiro lugar no mundial da França. No entanto, não teve tanta sorte em suas seguintes aparições: não passou da primeira fase nas Copas de 2002, 2006 e 2014. Mais sorte ao país de toalha de piquenique desta vez.

Nigéria

A Nigéria, localizada no oeste do continente africano, tem como língua oficial o inglês - além de haverem outros dialetos regionais - e tem sua população bem dividida religiosamente: cerca de 50% pratica o islamismo, 40% o cristianismo e os 10% restantes possuem outras crenças nativas. O país é cheio de controvérsias - é a segunda maior economia da África, mas sofre com inúmeras mazelas sociais e carece de infraestrutura. O que ocorre é que, mesmo possuindo a décima maior reserva de petróleo do mundo, a corrupção se apropria de parte das riquezas naturais do povo nigeriano. O país é uma república constitucional, federal e presidencialista, cujo chefe de Estado é, desde maio de 2015, Muhammadu Buhari.

O país viveu anos de terror com a presença do grupo extremista Boko Haram, criado em 2002, o qual visava construir um califado no nordeste nigeriano. Os fundamentalistas chegaram a matar cerca de 20 mil pessoas e a deslocar dois milhões em seus oito anos de atividade. Longas e complexas discussões foram travadas entre o governo e o grupo islâmico para que somente as 21 primeiras crianças fossem soltas dois anos depois da captura - sendo algumas outras até hoje inlocalizáveis. Além disso, mulheres e crianças sobreviventes à dominação do Boko Haram também foram violentadas pela própria força de segurança nigeriana - com a justificativa de estarem supostamente relacionadas ao grupo terrorista -, de acordo com documento apresentado pela Anistia Internacional.

A Nigéria chega na Rússia para a sua sexta participação em Copas do Mundo. Em sua primeira atuação no mundial, no ano de 94, os nigerianos brilharam e conquistaram a 9ª colocação no campeonato. Quatro anos depois, em território francês, conseguiram sua primeira vitória em uma partida na Copa. Nigéria e Espanha: 3 x 2. Também ganhou da Bulgária por 1 x 0, mas contra o Paraguai não teve jeito: levou de 3 x 1. Passou para as oitavas-de-final, mas terminou a melhor época de seu futebol em um jogo contra a Dinamarca, quando perdeu por 4 x 1. A partir daí, só conseguiu passar às oitavas de novo na última Copa (só para perder de 2 a 0 para a França): ficou em quarto lugar da primeira fase no mundial de 2002 e em terceiro no de 2010.

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