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A Política por Trás da Bola: Grupo F

Uma série de perfis nem tão futebolísticos dos 32 países da Copa do Mundo da Rússia

Por Augusto Ranier

A Alemanha, de Angela Merkel, defenderá a hegemonia mundial ao menos no futebol. Edição: Paulo Prado/Caderno de Pauta

No grupo F caíram a poderosa Alemanha, o intrépido México, a Suécia (sem Zlatan Ibrahimovic) e a Coréia do Sul (só). Levando em conta suas diferenças de ordem política e econômica; todos, sem exceção, aproveitarão o mês de Copa do Mundo para tirar a cabeça de suas dificuldades nacionais.

Acompanhe a política por por trás da bola do Alemanha, México, Suécia e Coréia do Sul.

Alemanha

A Alemanha é o centro de gravidade da política europeia. A potência industrial com brilhante performance econômica recente e governada pela mulher mais poderosa do mundo (pronuncia-se Ânguela Mérkel), parece uma ilha de estabilidade em um mundo acossado pelo ressurgimento do populismo. Dessa forma, é posta a alcunha de líder do mundo livre na chanceler. A realidade, porém, revela vários desafios. 

Começando pelo encurtamento de sua base de apoio no Parlamento, justamente devido a essa sua imagem, digamos, Europe first. O principal motor da polêmica é sua política liberal de asilo aos imigrantes. Crescentemente impopular entre os alemães, é contudo necessária para não sobrecarregar outros países da EU (União Europeia) já em dificuldade. O que se faz ainda mais importante tendo em vista o crescimento do euroscepticism, ou descrença EU, que já tomou o Reino Unido e foi recentemente visto na França e na Itália. 

A guerra em duas frentes pode ser demais para Merkel que, antes do Trump acontecer, planejava deixar a política - talvez para retirar-se no norte da Alemanha e passar o tempo estudando química quântica, já que ela é doutora pela Universidade de Leipzig. Além de manter a desacreditada EU coesa, precisa lidar com as críticas do partido de extrema-direita AfD (Alternativa para a Alemanha) que hoje é a terceira maior força no parlamento. 

A AfD é outra peça interessante nesse tabuleiro. Liderada pelo polêmico Alexander Gauland (prêmio Nobel em falhar em não soar como nazista), é a voz dos que criticam a guinada ao centro da União Democrata-Cristã (partido de Merkel, historicamente conservador), a política de imigração e dos que simplesmente não gostam de um negro como Boateng na sua seleção. 

Em mundiais, a seleção alemã é uma das mais tradicionais, com quatro títulos (1954, 1974, 1990 e 2014). Além disso, é a que mais chegou à final, em oito ocasiões.

México

E se te contassem que, em um país nas Américas, as eleições se aproximam e pesquisas indicam que o favorito é um demagogo, ativo nas redes sociais, populista, que defende a truculência policial e fala contra as reformas e corrupção do governo neoliberal atual? E também que esse país está inquieto com a violência relacionada ao tráfico de drogas que chega, inclusive, a assassinar políticos proeminentes? Estaria preparado para chutar qual é? Não devia, esse é um cenário muito comum na política latinoamericana. Mas o país em questão é o México. 

Vamos contextualizar um pouco mais. O candidato que estamos falando é Andrés Manuel López Obrador (chamado de AMLO), ex-prefeito da Cidade do México. Ele é a figura maior do partido Morena, de esquerda. Costuma pontuar bem nas eleições presidenciais, porém sempre perde para o candidato do PRI (Partido Revolucionário Institucional; hegemônico no México). A diferença agora é a aprovação abismal do presidente Enrique Peña Nieto, do PRI. Cerca de seis em cada dez mexicanos desaprovam seu governo que, entre outras coisas, é visto como conivente nos Desaparecimentos de Iguala, quando 43 estudantes foram sequestrados no estado de Guerrero, em 2014, e não foram visto desde então. Agências internacionais acusam um trabalho conjunto da polícia com o cartel de drogas. O governo pouco fez para dar esclarecimentos à população. 

As eleições acontecerão em 1º de Julho. Os outros candidatos são Ricardo Anaya, conservador do PAN (Partido de Ação Nacional) e o centrista tecnocrata José Meade (PRI). O primeiro sendo, no momento, mais competitivo. 

Há três dias, Alejandro Chavez Zavala, candidato à reeleição como prefeito de uma pequena cidade, levou um tiro na nuca enquanto tirava selfie com seus eleitores. É o 113º político morto nesse ciclo de eleições. Obra de uma fracassada guerra às drogas que, em pouco mais de uma década, tirou a vida de mais de 80.000 mexicanos. 

Na Copa, a seleção mexicana é vista como uma seleção "chata", mas que sempre acaba entregando o ouro. Seu melhor desempenho foi nas quartas-de-final, em 1970 e 1986.

Suécia

É o terceiro país desse grupo e você já deve estar deprimido com a história do México e da Alemanha. Mas vê que é a tão admirada Suécia e dissolve a angústia achando que finalmente lerá sobre um país estável. Bem, isso é apenas meia verdade. 

Por um lado, a Suécia tem um sistema de bem-estar social invejado, baixo desemprego e economia e moeda sólidas. Por outro, um mercado de trabalho extremamente formal cujos altos salários tendem a excluir trabalhadores menos qualificados. Some isso ao enorme influxo de refugiados e o modo de vida escandinavo estará em risco. 

O resultado é, como em outras partes do mundo, o crescimento do populismo, acompanhado fatalmente da proeminência de grupos neo-nazistas agitando clandestinamente a vida política. O partido anti-imigração Democratas Suecos, ainda que não ganhe, está previsto para conquistar um quinto dos votos; desempenho superado, apenas, pelos dois partidos mais tradicionais, o Social Democrata (centro-esquerda) e o Moderado Sueco (centro-direita), com 24 e 23%, respectivamente. 

Liderados pelo jovem Jimmie Åkesson, 39, os Democratas Suecos agora tentam moderar sua imagem perante o público expulsando alguns dos membros mais polêmicos. Porém, se confirmarem o bom desempenhos na urna, em eleições marcadas para 9 de setembro deste ano, prometem ser uma oposição furiosa, e radicalizar o panorama moderado da política sueca. 

No futebol, a seleção sueca já teve bons time e galgou um segundo lugar na Copa de 1958, quando perdeu para o Brasil. Hoje, é uma seleção organizada mas que perde muito sem o seu maior jogador, Zlatan Ibrahimovic.

Coréia do Sul

Pouco se fala da Coréia do Sul. Isso é compreensível, afinal, o país vizinho é uma ditadura sanguinária que vez ou outra ameaça destruir a raça humana com suas armas nucleares. Mas, vista de perto, é bastante diferente do paraíso da tecnologia e do kpop que pensam. 

A Coréia do Sul é tanto produto quanto agente ativo da guerra fria entre as duas coreias. Para citar um exemplo, o povo sul-coreano, principalmente os mais velhos - que viveram a guerra -, é famoso por ser furiosamente anti-comunista e partidários da ideologia da segurança nacional. Exercícios militares que elevam a tensão na península são frequentemente aplaudidos. 

Uma das proponentes da ideologia da segurança era a ex-presidente Park Geun-Hye, conservadora, que foi impichada no final de 2016 devido a um escândalo de corrupção envolvendo tráfico de influência por meio de sua amiga Choi Soon-sil. A crise política e o aumento do desemprego favoreceu a figura do liberal Moon Jae-in, centro-esquerda, que obteve votação consagradora e maioria no parlamento nas eleições de 2017. 

Moon Jae-in, filho de imigrantes norte-coreanos, promete dialogar com Pyongyang e tentar chegar a uma solução diplomática para o conflito. Essa é uma visão popular entre os jovens, mas bastante controversa para os mais velhos que, em certa medida, ainda ressentem a guerra. Prestes a completar 68 (em 25 de junho), o conflito há muito cessou, no entanto, a paz não está às vistas. 

Já com a bola rolando, a seleção sul coreana não tem muita tradição fora da Ásia, onde é vista como potência. Porém conta com uma participação surpreendente na Copa de 2002. Na ocasião, foi quarto lugar e eliminou a tradicional Itália.

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