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Escuridão Permanente

Uma movimentada Avenida do bairro Parque das Dunas, zona Norte de Natal, passou a ter como característica uma escuridão constante que causa insegurança nos moradores e em quem precisa passar pelo local 

*Por Francisca Pires


(Fonte: Arquivo pessoal)
Na noite do dia 26 de março de 2018, um casal de policiais militares de Santa Catarina, sofreu uma tentativa de assalto enquanto jantavam na pizzaria Barychopp, localizada no conjunto Parque das dunas IV. Segundo a PM, enquanto recolhiam os pertences das vítimas, os bandidos perceberam que o policial Marcos Paulo da Cruz, de 43 anos, estava armado. A partir disso, iniciou-se uma intensa briga que terminou com os criminosos efetuando dois disparos no sargento Marcos e um no peito da esposa dele, a soldado Caroline Pletsch, que aos 32 anos morreu ainda no local. O casal residia em Chapecó e estava passando férias em Natal quando o crime aconteceu. 

Oito meses após ser cenário desse crime brutal, a Avenida Mar do Caribe, localizada no Parque das Dunas IV, continua sendo alvo de bandidos. Os moradores atribuem a insegurança ao fato do local há muito tempo não receber iluminação adequada, visto que os dois postes que eram para clarear o trajeto não funcionam. Para completar o cenário de abandono, uma locadora próxima ao ponto de ônibus está abandonada e a pizzaria, onde ocorreu o crime em março, encontra-se fechada. 

Fachada da pizzaria Barychopp e escuridão na avenida (Foto: Francisca Pires/Caderno de Pauta)

Em entrevista, uma moradora que preferiu não ser fotografada, conta que a COSERN (Companhia Energética do Rio Grande no Norte) já foi acionada diversas vezes pelas pessoas que moram no local e nas proximidades. No entanto, os postes de luz não duram nem uma semana completa sem voltarem a apagar: “Tenho quinze anos e já moro aqui há seis, posso dizer que esse problema é recorrente, ligamos para lá com frequência e eles até vem aqui, mas a questão nunca é resolvida de uma vez. O pessoal costuma evitar pegar ônibus nessa parada, eles preferem andar mais e ter a segurança de um lugar mais iluminado”, lamenta a estudante Maria Eduarda que no momento da entrevista aguardava o transporte público junto a um amigo.
A estudante relata também que de manhã, apesar de mais iluminado, o trecho não costuma ser muito seguro. Isso porque a avenida é pouco movimentada e, assim como durante à noite, as pessoas costumam evitar esperar ônibus no local: “Eu, inclusive, já fui assaltada aqui nesse mesmo ponto de manhã quando estava indo para escola. Sempre evito ficar aqui sozinha. À noite quando minha vó vem do trabalho fico esperando com o portão de casa aberto para que ela consiga correr no caso de uma emergência”. Maria Eduarda destaca que a locadora abandonada é um facilitador para a ação dos bandidos, uma vez que eles costumam se esconder dentro do local à espera de suas vítimas: “Além da locadora abandonada que é só um pretexto para os bandidos e do Barychopp fechado, essa escuridão só vem a prejudicar ainda mais a nossa segurança. No dia da morte da soldado Caroline, por exemplo, os postes estavam apagados como sempre”. 

Lateral da pizzaria Barychopp completamente sem iluminação (Foto: Francisca Pires/Caderno de Pauta)

Dona de uma loja de conveniência há oito anos, Ednalva Dantas, 59, diz que a falta de iluminação é uma velha conhecida dos moradores e comerciantes do local. A senhora relata que a informação repassada pela COSERN é de que o problema dos postes está em um cabo especifico que quebrou e precisa ser trocado, segundo ela nunca foram dados maiores detalhes acerca do procedimento de troca ou prazo para conserto definitivo da iluminação. Assim como explicou Maria Eduarda, dona Ednalva reclama que as vindas da Companhia ao local não resultam em soluções duradouras e o reflexo pode ser visto na insegurança que vem afetando até suas vendas: “O movimento aqui ficou fraco, o pessoal tem muito medo de assalto e depois que o Barychopp fechou diminuiu ainda mais a vinda de clientes. Graças a Deus, apesar dos vários casos que fiquei sabendo, em nenhum deles estava com a loja aberta, porque geralmente as ações acontecem à noite ou de manhã cedo”, comenta.

Ednalva Dantas em sua loja
(Foto: Francisca Pires/Caderno de Pauta)
Um dos postes com defeito
(Foto: Francisca Pires/Caderno de Pauta)

Além do problema da iluminação, os moradores também apontam a locadora abandonada como facilitadora da ação de bandidos. Os relatos denunciam que, além do acúmulo de lixo no local que pode ocasionar o surgimento de vetores e proliferação de doenças, por estar com a porta principal quebrada, o acesso ao interior da locadora é muito fácil e acaba servindo de abrigo para criminosos que ficam à espreita esperando por novas vítimas. Por telefone, a assessoria de imprensa da SEMURB (Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal) informou que apesar de constar no sistema uma denúncia sobre o caso, a pessoa que a realizou se confundiu ao informar o número do imóvel. Esse equívoco é apontado por eles como provável causador da não resolução do problema que, segundo os moradores, tem mais de dez anos. Com a denúncia renovada e o número do imóvel atualizado, a SEMURB garante que o caso será levado até a fiscalização ambiental para que seja devidamente investigado. O proprietário da locadora será notificado quanto a poluição do local e, dependendo da análise do estado em que se encontra, o imóvel pode ser interditado e fechado permanentemente. 

Locadora ML Vídeo Locadora, abandonada há cerca de 10 anos
(Foto: Francisca Pires/Caderno de Pauta)

Uma das portas da locadora completamente quebrada, mostrando o acúmulo de lixo (Foto: Francisca Pires/Caderno de Pauta)


A COSERN, por ligação, informou que não se responsabiliza pelo problema dos postes, visto que o órgão responsável pelas questões de serviços urbanos e iluminação é a SEMSUR (Secretaria Municipal de Serviços Urbanos) e que só ela poderia dar maiores esclarecimentos, bem como um prazo para resolução do problema. A SEMSUR, por sua vez, não atendeu as ligações. A torcida é que medidas contundentes sejam adotadas o mais rápido possível, mas enquanto a questão não tem um desfecho, os moradores da Avenida Mar do Caribe seguem tendo que conviver com o fantasma da insegurança que se fortalece todos os dias quando o sol se põe e a escuridão toma conta do lugar.

Um comentário:

  1. Ótima matéria! Espero que esse caso venha ser solucionado o mais rápido possível. Parabéns pela iniciativa de denunciar este problema. Abraço!

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