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Você não é uma pessoa diplomática

*Por Luiza de Paula 

(Foto: Reprodução)

Após uma longa manhã com a companhia de livramentos condicionais, suspensão condicional da pena, medidas de segurança, ação penal pública e privada, ouvi um sonoro: “Luiza, você não é uma pessoa diplomática.” Soou tão verdadeiro quanto eu verificar que a minha instabilidade emocional se mostra pelo meu corpo desde o tamanho das unhas até os números sanfonas da minha calça. Talvez a minha paixão plena e absoluta pela escrita e pela crônica esteja me deixando um pouco introspectiva e com uma certa incapacidade de praticar a tal de ‘diplomacia’. 

Mentira. Pesquisei no google o que é ser um sujeito diplomático. Realmente não preencho os requisitos. Tem que agradecer sempre pela sinceridade das pessoas. É importante demonstrar autoconfiança e não ser agressiva. Não deve ser direta nos pensamentos e discursos. Deve dar sugestões ao invés de comandos e convencer perfeitamente as pessoas. É importante ser polida, esperar a vez de falar e não interromper os outros. O pior é manter um tom de voz neutro e natural e evitar falar palavrões. Pessoas diplomáticas mantém o controle das emoções. Independentemente do meu flerte profundo com a introspecção momentânea, meu gênio forte não bate um papo muito sadio com essa gente fina, educada, controlada e polida. De certo modo, que alívio! Bom mesmo é ser gente com G maiúsculo, intensa e bem naquela linha oito ou oitenta. Talvez os psicanalistas me condenem, os espíritas intercedam por mim, os empresários não me queiram para chefiar uma grande corporação. Talvez eu me condene, mas quem nunca? Por enquanto, acho chique não ser tida como um ser adepto à diplomacia nas relações sociais. 

Talvez daqui a cinco anos eu tente fazer todos os malabarismos do mundo, por necessidade, para me encaixar nesse nomezinho aí de cima. Talvez eu comece a fazer yoga e aprenda a lidar perfeitamente bem com o famoso enaltecimento do ego próprio de terceiros, travestido de sinceridade. Talvez em algum momento da minha suada e sublime existência eu tenha autoconfiança e não seja agressiva e reativa. Talvez algum dia eu seja polida, meio covarde e tenha um certo receio de divulgar minhas opiniões por aí. Talvez algum dia eu “adulteça” e aprenda que interromper o coleguinha ou a coleguinha na hora da fala é feio, não soa de bom tom. Talvez eu assimile, com a yoga que falei logo ali, que posso falar com timbre de voz b-e-m c-a-l-m-o e não precise ter quase sempre um quê argumentativo na oralidade. Talvez eu me torne membro da alta cúpula do judiciário, aprenda a falar em Latim, Alemão, Francês e aquele Português do século XIX, e termine por abandonar os meus queridíssimos palavrões – mas porra, o quão chato deve ser uma vida sem palavrão? Eles são adjunto adverbial de intensidade, às vezes. Terei de aprender a celebrar e sofrer educadamente.. Talvez algum dia eu aprenda a controlar àquela raiva impulsiva que sai das minhas entranhas. Talvez eu olhe pra esse texto daqui a alguns anos e me ache patética. Talvez eu permaneça sem os atributos da diplomacia. Talvez eu perca a fé nos sonhos e me torne uma adulta extremamente pragmática, daquelas que acha sonho besteira. Talvez a escrita perca esse lugar sagrado que tem pra mim hoje, a ponto de ser minha psicanálise de urgência e não àquela de toda quarta-feira, lá na Rua Auris Coelho. 

Esse foi um texto da suposição, da hipótese. Amanhã posso não reconhecer o meu eu de hoje, mas deixar de ser por medo de uma eventual mudança drástica, é covardia. O alinhamento dos planetas não me fez com o DNA da covardia. Não sei se isso foi uma maldição ou uma dádiva, e isso nem importa muito. Não fui e não estou diplomática e admito que me dá um certo frio na barriga e um medo de um dia me tornar. Tenho um certo receio dessa gente sempre autoconfiante. “Gente” e “sempre” não combinam muito bem. Quando vejo essa junção, já penso na construção de um humano meio robotizado e, como eu disse, gosto de gente com G maiúsculo. Robôs não me admiram. Adoro minhas unhas curtas-grandes-curtas-grandes-curtas-grandes e meu peso variando por três meses quarenta e nove, três meses cinquenta e dois, três meses quarenta e nove, três meses cinquenta e dois. Há beleza nisso. 

Nota: Gustavo, se algum dia você me olhar e disser: “Luiza, você se tornou diplomática”, saiba que eu vou querer ter uma diplomacia única e exclusivamente a lá Henriques. Outras formas eu dispenso.

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