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O que Vladmir Herzog nos ensina para os dias atuais?

O caso do Jornalista morto há 43 anos pela ditadura militar exemplifica o que não queremos que se repita da história do Brasil

Por Kamila Tuenia 

No último dia 25 de outubro completaram-se 43 anos da morte do jornalista Vladmir Herzog, torturado pela Ditadura Militar Brasileira no Departamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI). Herzog era judeu naturalizado brasileiro, foi diretor de jornalismo da TV Cultura e professor da Escola de Comunicação e Artes da USP. Apresentou-se ao DOI-CODI para prestar esclarecimentos sobre suas ligações com o Partido Comunista Brasileiro e de lá nunca saiu, foi violentado, morto e dado como suicida. 


O DOI-CODI onde Herzog foi assassinado era comandado pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, idolatrado pelo então candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL), citado por ele na emblemática votação do Impeachment como “o terror de Dilma Rousseff”, torturada por Ustra no mesmo lugar. Bolsonaro já declarou que “querem vitimizar em cima da morte de Herzog”, para ele, ser morto por ser contrário a um regime que tortura pessoas é vitimismo, assim como se vitimizam mulheres, negros, LGBTs, pobres e nordestinos. 

A pergunta que me paira na cabeça sem parar é: Como um país que viveu um regime ditatorial tão brutal é capaz de dar milhares de votos a um candidato que defende tais ideais autoritários e semelhantes com os daquela época? Minimamente, grande parte do eleitorado Brasileiro não aprendeu nada com sua história e tem se deixado levar por esse discurso usurpador. 

A morte de Herzog, - assim como de todos os brasileiros que sofreram e foram mortos pela ditadura - deveria ser para todos nós um episódio que jamais deve se repetir e ser tratado com desdém, mas sim que deveria nos ensinar que vivemos tempos sombrios e violentos, onde o ódio e a intolerância dominaram por 20 anos. Um país que se permite viver algo minimamente semelhante ao regime que matou Vlado por se opor, talvez mereça uma nova chance de aprender a valorizar a democracia. 

Vivemos uma conjuntura em que o ódio e a intolerância novamente estão à beira de dominar o Brasil, e a garantia da democracia é incerta. Episódios violentos e tentativas de calar a voz da oposição a uma figura que representa medidas extremistas e excludentes, além de casos de censura velada e frases como “vamos fuzilar a petralhada” e “não te estupro porque você não merece” que dão aval a ataques de seus apoiadores para seguirem na prática a violência que Bolsonaro prega.

A cada dia Bolsonaro e seus seguidores nos provam que nossa jovem Democracia pode viver seus últimos dias em um governo mascarado por uma eleição democrática - que na verdade é manipulada pela construção do atual governo ilegítimo por meio de um golpe, pela grande mídia e pela farsa de que “as instituições estão funcionando normalmente”. Independentemente do resultado deste segundo turno, muitos de nós já temos o sentimento de que o nosso país já perdeu em vários aspectos, e infelizmente ainda é possível perdermos ainda mais e o candidato que infelizmente tem vencido as pesquisas de opinião eleitoral representa todo esse risco. 


Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos ante as atrocidades sofridas por outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados
Vladmir Herzog
Presente!

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