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Setenta e sete

Por Luiza de Paula


Senti uma necessidade vital. Visceral. Lembrei do “Cartas ao Jovem Poeta”, de Maria Rilke, quando ele dizia algo mais ou menos assim: “Pergunte a si mesmo se precisa escrever. Encontre em si uma resposta profunda e se a resposta for ‘sim’, construa sua vida de acordo com essa necessidade. Se aproxime da sua natureza.” O mundo pode girar como for mas eu sempre vou voltar para o meu lugarzinho sagrado que é o da escrita. O único, por sinal, que anda sendo possível nesses dias. 

Tudo mudou nesses três meses por aqui. O layout está mais bonito. Chegou uma galera massa escrevendo uns contos geniais. Paulo Prado – o publicitário e crítico de filme mais foda que eu conheço e que tem os melhores bonés imagináveis– chegou por aqui com ideias Hi-Tech e implantou um tal de “Trello”, coisa que na minha época não existia e confesso que prefiro como há três meses. Posso falar isso? Acho que sim.  Ah! E o período eleitoral deu as caras. Lula não saiu da cadeia. Ciro Gomes não alavancou na disputa presidencial. Jair Messias Bolsonaro chegou ao segundo turno graças ao bombardeio de fake news, custeados por onipotentes empresários milionários, e a divulgação grotesca de discursos antidemocráticos e avessos a todas as minorias sociais. Fernando Haddad chegou ao segundo turno graças ao meu sensato e digníssimo Nordeste e finalmente conseguiu fazer autocríticas importantes. O judiciário silenciou-se diante das denúncias feitas pela Folha de São Paulo, acerca de um suposto Caixa Dois da campanha do “cidadão de bem”, o Messias. Teve também o #EleNão, um dos momentos mais bonitos que vi nessa minha curta caminhada democrática. Uma verdadeira primavera feminina. 

Adentrei em um semestre delicado na faculdade de direito. Inúmeras crises existenciais e choros no carro ouvindo Belchior e sua alucinação inebriada pela divina comédia humana. Estágios perdidos. A vida pessoal meio revirada. Eu meio errada. O país meio errado. Eu sou naturalmente hiperbólica e intensa, então esse “meio” foi só pra configurar um certo equilíbrio e não denotar “a louca” desvairada (risos). Só que não posso esconder isso, mas peço que fique só entre a gente, tá? É que essa coisa de escrever do outro lado da tela do computador dá uma coragem peculiar e típica. A gente se liberta, escreve para si mesma, esquece – por alguns minutinhos – que têm leitores e leitoras do outro lado e diz b-a-r-b-a-r-i-d-a-d-e-s ditas provavelmente pela primeira e última vez. Essa super/hiper/mega/power dose de “agir com o coração” – a etimologia que acabei de pesquisar no Google da palavra “coragem” – só pode ser alcançada por mim por meio da arte. Da escrita. Esse lugar é profano. É sagrado. É sincrético. É imexível. E que nada nos limite nesse espaço. Que nada nos censure. Que nada nos cale. E viva Maria Rilke com o seu revolucionário “Cartas a um Jovem Poeta.” E que prazer é estar de volta, mesmo quando aqui e acolá! 

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