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Sejamos menos cruéis

Por Luiza de Paula 

Fonte: Instagram Frida Feminista

Abril não hesitou em chegar. Ontem, janeiro. Hoje, já estamos na semana do julgamento do ex-presidente Lula pelo STF. Hoje, que nem é primeiro de abril – dia da concretização do golpe civil-militar de 1964 e, ironicamente, o dia da mentira – e tem general do Exército se pronunciando favorável a outra intervenção. Só que estamos em 2018. Assusta.

Hoje, o Movimento Brasil Livre (MBL) organizou uma manifestação contra a corrupção. Atentem: o ême bê élê. Hoje, uma das minhas melhores amigas, aos 19, passou no processo seletivo da Ambev. Quase morri de orgulho. Hoje, me senti adulta ao formular o meu currículo. Hoje o meu irmão foi duas vezes à coordenação na escola por “arengar” com os coleguinhas. Abril não hesitou em chegar e hoje fiz uma prova que me deixou com a autoestima praticamente inexistente. E é sobre isso que eu quero e espero ter a coragem de me expor nesse protótipo de crônica. Prometo não enrolar mais. É que é mais fácil falar de questões políticas e sociais do que de nós mesmos. 

A gente se esforça, tira leite de pedra, não tapa o sol com a peneira, arregaça as camisas e vai à luta, mas nós temos um problema danado de lidar com o erro, com a imprevisibilidade, com a incompetência. Temos, em geral, uma gigantesca dificuldade de aceitar com humildade que erramos apenas por errar. Sejamos claros: ainda é difícil aceitarmos a nossa imperfeição. É difícil entendermos a matemática da nossa humanidade. 

Fiz uma prova que em um determinado quesito me deixou desolada. E nem sei ainda se o resultado foi trágico, mas na minha cabeça, naquele momento eu já me tornara uma das piores alunas do curso de Direito e que talvez “aquilo não fosse para mim.” A vida parecia estar errada e mais ao avesso ainda estava eu. E eu não queria terceirizar a culpa, não queria me sentir vítima de alguém, a não ser de mim mesma. 

Foi uma prova, mas naquele momento foi capaz de alterar completamente a minha autoestima. Foi uma prova, mas o discurso de que “o mercado de trabalho não perdoa”, tão difundido nas nossas Universidades, alterou a minha homeostase mental. Foi uma prova, mas é quase obrigatório manter o IRA altíssimo a fim de obter um estágio em determinados órgãos públicos.

E isso não pode ser tido como besteira. Não pode não ser debatido. A agressão mental, a pressão desumana, a obrigatoriedade constante de perfectibilidade não podem ser institucionalizadas em nome de um abstrato “mercado de trabalho.” E pensar assim não significa que eu, ou qualquer outro (a), tenhamos o “DNA” da não ambição, que sejamos fracassados ou acomodados. Não sou nada disso, mas vai, não preciso ficar fazendo auto-comercial – meu chip não é decodificado para tal. Preciso progredir? 

Quero, apenas, que tenhamos espaço para compreendermos a nossa falibilidade. O erro provavelmente nunca irá ser doce e amável. Errar e ter consciência disso perante si é desconfortável. No entanto, o erro pode e precisa ser visto de forma mais leve. Menos condenatório. Digo isso pra mim, pra você. Tenhamos consciência de que sim, vamos errar. Muito. Muitíssimo. Todos os dias. Mas que tentemos, sempre, ser a nossa melhor versão. Que tentemos, sempre, evoluirmos o nosso espírito. Eduquemos, também, o nosso olhar. Não hiper-valorizemos o julgamento cruel dos outros sobre nós! Mas sobretudo, aprendamos a não criar realidades crudelíssimas de nós para nós mesmos (as). 

E Abril não hesitou em chegar.

E talvez esse texto não sirva para nada. 

Mas a vida é boa.

E nós também! 

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